quarta-feira, 13 de novembro de 2013

É o pior treinador da história do Benfica!

Fernando Guerra dizima Jorge Jesus: É o pior treinador da história do Benfica!


Toda a gente sabe que a coerência é um dos traços que mais vincadamente caracterizam a personalidade de Jorge Jesus. Palavra dita é amadurecida e opinião expendida é fruto de prévia e profunda reflexão. Outra situação, diametralmente oposta, é o que não diz e as pessoas teimam em garantir que disse ou pensou, não devendo faltar muito por isso, para, em reposição da verdade, vir a terreiro desancar quem ousou insinuar que ele sugeriu a dispensa de Cardozo ou admitiu haver falta de espaço para os dois coabitarem na estrutura do futebol profissional. 

A pré-temporada foi enriquecida pelo folhetim e não consta que, até determinada altura, coincidente com a realização do primeiro derby da época, na 3.ª jornada da Liga, em Alvalade, até esse dia, repete-se, não consta que alguma vez Jesus tivesse rejeitado o que fora noticiado sobre o assunto.

Pode concluir-se hoje, com as devidas reservas, que o empurrão em pleno relvado no Jamor, na derrota da final da Taça de Portugal diante do Vitória de Guimarães, não terá ultrapassado em gravidade as reaçôes a quente que serão normais entre atores do futebol. 

Tanto assim que, após o palpitante derby, Jesus entendeu esclarecer o País que Cardozo é «um finalizador, um goleador!». Deve reconhecer-se que é mesmo o máximo como treinador, pois teve feeling e, levado pela sua inatingível perspicácia, tomou a decisão «em boa hora»: a de utilizar o avançado paraguaio, o qual, pormenor que Jesus parecia ignorar quando definiu a equipa, representa 37,5 por cento do total de golos apontados pelo Benfica em 2013/14 e assinou 169 desde que foi contratado em 2007, dos quais doze (!) ao Sporting.

Pelos vistos, Jesus só descobriu isso no sábado passado... em que me parece ter atrapalhado de mais e orientado de menos. Com a qualidade do plantel que o presidente colocou à sua disposição, com Óscar, como lhe chama, em noite inspirada, três golos até ao intervalo, e com confortável vantagem no recomeço, deixar-se levar para prolongamento e precisar da cumplicidade de Rui Patrício para escapar ao sortilégio das grandes penalidades julgo ser mais de atrapalhador do que de treinador. 

É essa a sensação com que fiquei do jogo de Atenas, com o Olympiakos, e do da Luz, com o Sporting: os jogadores sabem fazer bem e sentem que podem chegar longe, mas há um pequeno problema chamado Jesus, o qual continua a valorizar a primeira pessoa do singular e a menosprezar o desempenho dos seus profissionais.

Objectivamente, feeling teve-o Luís Filipe Vieira ao arrastar a polémica de verão. Este plantel governava-se sem Jesus mas perdia-se sem Cardozo, o que conduz a uma evidência: se Jesus quisesse sair seria um respirar de alívio; se Cardozo mudasse de emblema seria uma enorme preocupação.

Regressemos, porém, à inabalável coerência de Jesus. Em meados de outubro, considerou prioritários o campeonato e a Taça de Portugal. Quinze dias depois, em Coimbra, em nova demonstração de estruturada linha de pensamento, não só proclamou justificadas pretensões na Champions, como, qual milagre, reivindicou a legitimidade de sonhar com a presença na final, em maio de 2014, marcada para o Estádio da Luz.

Mais fantástico ainda, como o trapezista no circo, em que a cada exercício se propõe arriscar a vida para fixar o interesse do público, o mesmo treinador que abominava o 4x3x3, vendo nele o sistema mais fácil de desmontar, apesar de André Villas Boas e mais tarde Vítor Pereira lhe terem provado o contrário, mudou de ideias, sabe-se lá por que circunstâncias, e, de repente, o modelo no qual não se cansou de bater é promovido a primeira escolha. Nenhum drama na mudança, refira-se. 

Grave, sim, é o Benfica ter tolerado a teimosia num conceito sem jeito. Por isso, na relação tempo/títulos, Jesus é o pior da história do Benfica. 

Por isso, quando se lhe exigia que somasse seis pontos nos confrontos com o Olympiakos, através de duas vitórias, averbou um e abriu a porta da Liga Europa, como lhe é habitual. Por isso, depois de se apanhar com a situação controlada com o Sporting, entrou em regime de contenção, permitiu a recuperação leonina e acabou imensamente agradecido ao seu anjo da guarda... 

Não sei se este plantel encarnado é o melhor dos últimos 30 anos, como alvitrou Vieira, mas é francamente muito bom. Tão bom que é capaz de obrigar Jesus a conquistar algum título... importante. 

- Fernando Guerra, jornal A Bola, 12 de Novembro de 2013

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