O campeonato
homem a homem
Análise
individual aos jogadores do Benfica que conquistaram o 33.º título.
No rescaldo da
festa do título, apenas existe uma coisa a dizer.... "Parabéns ao
Benfica". Foi um título que começou aos “trambolhões” e à custa das
individualidades mas que acaba com a força de uma equipa que nunca se
amedrontou e mostrou que não desaprendeu de jogar, que apenas se esqueceu de
que o futebol tem que ser coletivo e no coletivo está a força dos vencedores.
Artur- termina a
época como um dos primeiros guarda-redes estrangeiros a ser campeão pelo
Benfica, um feito apenas igualado pelo seu companheiro e parceiro de posto, Jan
Oblak, mas também termina o campeonato como o guarda-redes que mais golos
sofreu pelo Benfica. É um jogador que revela um problema demasiado grande
quando a bola vem pelo ar e revela bastante insegurança em jogar com os pés. E
quando a isto juntamos a obrigatoriedade de saber estar na baliza quando a
defesa se apresenta subida, depressa percebemos que Artur é muito bom mas não é
um guarda-redes que faça sombra aos Sás aos Ricardos aos Oblaks e a outros
existentes neste nosso campeonato.
Oblak - Cedo
premonizei, ainda na pré-temporada, que Oblak era a chave desta defesa, e
quer-me parecer que não me enganei. Rápido nas saídas dos postes, frio na
abordagem, destemido no ataque à bola e acima de tudo revela um saber estar na
baliza que deixa-nos a pensar que Oblak nasceu para estar ali naquela baliza e
a defender aquela camisola. Terminará o campeonato como o guarda-redes menos
batido em 16 jogos efetuados e apenas 3 golos sofridos. Com o ganhar de
experiência será um guarda-redes para outros campeonatos. Se Preud'Homme chegou
tarde e ainda durou muito anos ainda, este menino (que ainda o é) chegou muito
cedo e não acredito que fique muitos mais do que durou a passagem de
Preud'Homme...
Luisão - Foi
capitão, foi ele que pegou na equipa "pelos colarinhos" e se JJ teve
sucesso em muito o deve à capacidade de liderança do seu "braço
direito". Fez este ano a sua melhor época de sempre, esteve sempre
insuperável.
Garay - O
homem-sombra da defesa, aquele que melhor se entendeu com Luisão durante as 11
épocas que este leva de águia ao peito, Garay deixou de ser o defesa central de
jogar à esquerda como lateral e passou a ser um central de corpo inteiro.
Esteve sempre a um nível bastante alto e a época ainda não terminou.
Maxi - Maxi é
Maxi, quando se pensa que está rebentado faz um sprint de 50 metros, quando se
pensa que não tem habilidade, finta dois e faz uma triangulação. Maxi é o
chamado jogador estranho, chega como médio direito e revela-se um excelente
lateral, e sem ter grandes recursos técnicos tem uma capacidade de luta que
extravasa e motiva os seus companheiros, Maxi não é um lateral de TOPO nem tão
pouco um dos melhores laterais de sempre do Benfica mas uma coisa é verdade,
ele é imagem do Benfica, Raça Querer Honra e Glória, a ele nada o para, nem as
lesões. Merece acabar a carreira onde quiser mas com a certeza de que ele foi
uma imagem do "Ser Benfiquista", mesmo quando a equipa lutava por
objetivos pouco dignos para o seu historial.
Siqueira - Um
dos laterais-esquerdos mais competentes e coerentes dos últimos 20 anos. Não
tem a velocidade de Coentrão, não tem a leitura tática de Fyssas, mas tem uma
coisa que nenhum desses tinha (até mesmo o Leo), que é a capacidade técnica e
as suas noções de equilíbrio. Ele fecha a defesa, ele ajuda no ataque, ele
equilibra a meio-campo... Siqueira foi, à imagem de Maxi, um verdadeiro todo o
terreno.
Almeida, Sílvio,
Jardel - Os homens das "folgas" passaram sempre com distinção.
Jardel, o pronto-socorro para o centro da defesa, foi ele que sempre aguentou o
barco mesmo quando Luisão ou Garay tinham que folgar. Almeida foi o homem mais
polivalente deste Benfica, um polícia a meio-campo, o bombeiro à esquerda e um
pilar à direita. Foi insuperável.
Sílvio - o lateral polivalente, permitiu que
Siqueira recuperasse das lesões, permitiu que Maxi descansasse, permitiu que a
defesa continuasse estanque, mesmo quando tudo parecia arrastar-se para
períodos complicados.
Fejsa - O
escudeiro da equipa, combativo, taticamente perfeito e acima de tudo o homem
que deu ao Benfica aquilo que mais precisava na altura em que mais precisava:
deu ao Benfica a capacidade de respirar com bola a meio-campo.
Matic, Gomes,
Amorim – Matic, a aranha sérvia, era ele que ia empolgando a equipa no início
do campeonato. Se Luisão puxava pela equipa, Matic arrastava-a nas suas costas.
O Benfica até meados de novembro era apenas Matic e Enzo. André Gomes estava
desaparecido, fazia 10 minutos no total em 5 jogos e desaparecia, para depois
aparecer a jogar a titular ou a suplente utilizado na Europa. E eis que chega o
dia em que JJ é obrigado a dar confiança ao miúdo que pela 1ª vez jogava a
titular contra a equipa que o dispensou aos 14 anos. Nesse jogo tudo se tornou
realidade e acima de tudo lembrou-se ‘hei, afinal eu jogo à bola e até sou mais
ao menos rápido’ - e do sonho à realidade foi somente um domínio de bola com o
peito, com uma rotação à direita e um forte disparo com o seu melhor pé e...
golo para o Benfica... no dia em que o menino Gomes se tornou num Homem, teve
até hoje uma passagem discreta pelo Benfica mas não deixa de ser mais uma
aposta de JJ ganha no momento. Amorim - tudo poderia ser rosas, mas como bem se
sabe estas também têm espinhos. Foi dos que mais lutaram e daqueles que mais
permitiram à equipa respirar quando esta precisava.
Enzo - A ideia
básica deste Benfica nasce neste argentino, um razoável extremo tornou-se num
dos melhores médios-centro que já vi no Benfica. Não tem os requintes de Aimar,
nem dotes de feiticeiro, mas PORRA… este homem joga o dobro de todos e cansa só
de o ver correr. Foi uma meia adaptação e mostra que JJ quando pensou em trazer
o Argentino não pensava apenas em ter mais um extremo, mas sim em ter mais um
possível trunfo polivalente.
Markovic - O
aprendiz de feiticeiro, ah Aimar, que falta fazes a este menino. Chega à Luz
como craque com excelentes recursos técnicos e uma "estrela" para
golos bonitos e irá terminar a época como um jogador total, que defende, que
joga feio, que dá o "físico" ao manifesto e que acima de tudo assume
o jogo, algo que durante os primeiros seis meses tinha muita dificuldade em
fazer.
Gaitan - Quem é
este Gaitan, não o reconheço, de certeza que não é aquele que não fazia mais
que meia época de bom nível, de certeza que não é aquele que apenas se
preocupava em atacar... Não, este Gaitan é outro Gaitan, é o Gaitan que
amadureceu o seu futebol e que à vista de muitos é talvez o "elo" que
falta à seleção argentina para poder fazer brilhar Messi. Para mim, Gaitan e
Enzo serão neste momento os jogadores mais trabalhadores e com maior capacidade
de fazer respirar uma seleção argentina que urge em arranjar maneira de ter um
equilíbrio qualitativo entre o meio-campo criativo/defensivo e o seu
"ataque estrelado".
Sálvio - O
jogador que mais azar teve esta época, lesionou-se no inicio no campeonato e
acaba o campeonato novamente lesionado. Contrastando com a época passada, em
que fez praticamente uma época sem parar, esta época não chegamos a ver o
melhor Sálvio mas ainda nos veio dar uma mãozinha em momentos cruciais. Um
jogador de alta rotação, um jogador que faz da explosão física a sua forma de
ser útil à equipa, Sálvio é o homem frenético no ataque do Benfica. Com ele em
campo não há lateral que não se encolha mesmo que ligeiramente.
Cavaleiro - A
dinâmica vencedora do Benfica por muito que se tente não pode ser dissociada do
empurrão dado por este menino... ele, que pelo atrevimento e bons exibições
pela equipa B, mereceu minutos na equipa A, e lutou por todos esses minutos, e
com essa luta acabou por galvanizar uma equipa adormecida e esquecida de que a
alegria da vitória é o melhor tónico. Cavaleiro reservou o seu lugar no plantel
para a próxima época.
Rodrigo, Lima -
Uma dupla surpresa que foi trabalhada durante a pré-época mas que tardou em
surgir, muito por culpa dos fantasmas da época passada. Esta dupla só realmente
começou a faturar a partir de dezembro, com as alterações táticas efetuadas na
equipa fruto da saída de Matic.
Cardozo - Era e
é o homem-golo do Benfica, Esta época, pela segunda vez, Cardozo não chegará
aos 20 golos, e pela primeira vez não passa os 15... não nos pudemos esquecer
que Cardozo aparece como titular já quase em outubro e que depois em dezembro
começa a dar sinais de fadiga muscular, e com o jogo em pleno Estádio da Luz,
com o campo impraticável, ajudou ao agravar da lesão na cervical. Ainda
recuperou minimamente para o jogo de Alvalade, mas... o mal estava feito... e
Cardozo foi obrigado a parar. Mesmo assim, se o Benfica hoje é campeão muito
pode agradecer à entrega e abnegação que o paraguaio demonstrou durante o tempo
que pode dar o seu contributo a 100% à equipa. Depois, com as alterações
táticas efetuadas na equipa, o futebol do Benfica tornou-se demasiado
"corrido" para um jogador como Cardozo.
Djuricic,
Sulejmani, Ola John, Cortez - Djuricic pouco participou no campeonato, falta
ainda algum "calo" a nível competitivo para ser uma solução;
Sulejmani é um jogador muito "quebrado", esteve muito tempo parado e
as constantes lesões no início da temporada retiram alguma confiança, precisa
urgentemente de levantar a cabeça e mostrar o seu real valor; Ola John na
recente entrevista já disse tudo... precisa de trabalhar mais, algo que o
próprio Jesus já dizia na época passada; Cortez nunca será um lateral para o
futebol europeu, tem um bom toque de bola mas falta-lhe saber defender.
Por fim... Jorge
Jesus - Esteve com um pé na rua ainda antes de começar o campeonato, mas na
altura Vieira falou mais alto e colocou-se em xeque, dizendo que JJ era o seu
treinador. Jesus tentou trabalhar da melhor forma mas os "fantasmas de uma
Primavera passada" iam quebrando o espírito a uma equipa que esteve em
pré-temporada até outubro. A isso juntou-se o sai não sai, o fica não fica de
muitos jogadores, mas Jesus mais uma vez quebra com o passado, volta a
reconstruir tudo do ZERO e volta a construir uma máquina de jogar à bola, mas
desta feita com o devido cuidado de estabilizar primeiro defensivamente. E se a
equipa demorou até estabilizar a defesa, uma coisa é certa: assim que
estabilizou a defesa toda a equipa cresceu e o futebol "mágico"
voltou à Luz.
Este foi o
retrato de uma época brilhante por parte do Benfica, a qual assume mais esse
brilhantismo perante a um adversário diferente dos anos anteriores nomeadamente
o grande Sporting de Jardim.
Jardim aos
poucos conseguiu fazer aquilo que o Bento tentou por 2 vezes, que era de uma
equipa de miúdos fazer uma máquina de bom futebol. Vamos ver se Jardim consegue
dar o passo seguinte, e se torna a equipa mais "madura". Pensando
bem, aqui não devia ter dito que se Jardim iria conseguir, porque já se viu
pela excelente réplica que com maior ou menor dificuldade ele consegue, devia
sim ter dito... vamos ver se deixam o Jardim conseguir, e aqui quando digo o
deixam, tem a ver as intrigas internas e os problemas criados pelos adeptos assim
que as coisas endurecem... Jardim é o homem certo no clube certo para o momento
certo.
Fonseca acaba
por ser o grande derrotado, não o FC Porto, mas sim o Fonseca, porque assume um
poleiro de destaque sem nunca ter tido uma voz firme, assume uma cadeira importante
sem saber sequer com o que poderia contar, e acima de tudo resumiu-se a um
discurso demasiado ambicioso para aquilo que era o seu trajeto. Se pudemos
dizer ‘ah e tal, Villas-Boas não tinha trajeto’, correção: o trajeto do
Villas-Boas foi feito no background do futebol, ele esteve em projetos de
dinamização de uma seleção de futebol, ele foi olheiro e especialista tático
para Mourinho, ele teve muitas coisas que lhe conferiram algum know how de como
lidar com certas e determinadas situações e com isso conseguiu assumir o cargo
de treinador do FC Porto sem medos, e mesmo que por vezes tivesse um discurso
menos polido conseguia sempre dar a volta à situação, porque sabia já o como e
o quando dizer certas e determinadas coisas. Fonseca não, perdeu-se em ataques
a todos, e ficou sem defesas, e a isto juntamos um balneário em situação
delicada com a perda de dois jogadores influentes e com um plantel demasiado
curto para as ambições do FC Porto. Isto tudo junto acaba por dinamitar
qualquer hipótese de o FC Porto tentar sequer lutar por uma hipótese de ser
campeão. Isto é algo que eu disse ainda antes do Natal, ao que me responderam
muitos dos Relvas de que sim, o Benfica é que está forte, num tom de gozo e com
muito sarcasmo associado... Pois, mas agora digo eu... Benfica é campeão e o FC
Porto... onde está???
PedroMPCA