Como o Benfica
aprendeu a ganhar à italiana
Elogio da
estratégia de Jorge Jesus
O mais
importante primeiro: o que o Benfica conseguiu em Turim foi fantástico e entrou
diretamente para a galeria de noites inesquecíveis das equipas portuguesas na
Europa. Jogadores, treinadores, dirigentes e adeptos, todos estão de parabéns.
Os jogadores no início da lista, claro, afinal foram eles que deixaram o corpo
e a alma.
Dito isto, o
Benfica encontrou o final feliz numa das noites em que menos jogou. Os números
ajudam a compreender o que se passou: 37 por cento de posse de bola, apenas
quatro remates (só um à baliza) contra 19 (sete à baliza) da Juventus e 320
passes, contra 554 dos italianos.
No pior jogo do
Benfica esta época, em Paris, a equipa de Jesus teve um pouco menos de bola (35
por cento), mas permitiu muito menos remates (12, nove deles à baliza) e fez
mais: nove, quatro à baliza. Quanto a passes, 425, contra 930 do adversário.
Claro que os jogos foram muito diferentes. Em Paris a bola entrou três vezes na
baliza, e depressa. Em Turim andou perto, mas o facto de ter passado ao lado,
mais a expulsão de Enzo, permitiu que o Benfica se mantivesse lá atrás.
Se trago estes
números não é para tentar embirrar. Longe disso, até porque seria estúpido. A
ideia é precisamente salientar o que o Benfica evoluiu.
Entre Paris e
Turim, entre outubro e maio, Jorge Jesus alterou seis jogadores. Matic saiu,
Fejsa está lesionado, Maxi Pereira entrou para o lugar de André Almeida.
Djuricic há muito que perdeu o comboio. Cardozo é hoje suplente e na baliza
joga Artur. Além disto, Enzo voltou ao meio, o que não é um detalhe.
São muitas
alterações, mas creio que os nomes nem são o mais importante.
O Benfica
2013/14 é a melhor equipa de Jorge Jesus. Não por ter os melhores jogadores,
por marcar mais golos ou por praticar o futebol mais empolgante e esmagar os
adversários. Este Benfica é o melhor porque o treinador aprendeu, e os
jogadores com ele, que existem diferentes formas de vencer uma partida de
futebol. Não apenas uma.
Em Turim, o
Benfica só jogou 20 minutos como desejava. Os primeiros 20. Quase tudo o resto
foi sofrimento e muito rigor.
Só foi possível
chegar ao fim a sorrir porque esta época os «encarnados» têm uma defesa forte
(aquele ideia antiga segundo a qual se começa a construir a partir da
baliza...), médios muito bons taticamente (o que se nota especialmente quando
jogam Ruben Amorim e Fejsa) e porque a dinâmica é feita a partir dos homens da
frente e não com o envolvimento de sete ou oito jogadores, como no passado. Ou
seja, mesmo quando ataca, o Benfica não se desequilibra.
Na Luz, o
Benfica poderia ter tentado jogar de outra forma. Mas foi inteligente.
Reconheceu as suas limitações e o poder do adversário e partiu daí para vencer
a Juventus.
O outro Benfica,
aquele que goleava e empolgava os adeptos, talvez não tivesse vencido esta
eliminatória. Não por falta de valor, que o tinha, mas por estar menos
preparado para enfrentar desafios como o de Turim e os que teve pela frente nos
dois jogos recentes com o FC Porto. E por se expor muito mais. Aliás, só por
ser hoje um conjunto mais matreiro, mais unido e mais equilibrado foi possível
ao Benfica lembrar à Juventus como se ganha à italiana.
Aliás, ouvir
Conte, o treinador da Juventus, acusar o Benfica de antijogo e pressão sobre a
UEFA é a declaração (absurda, entenda-se) da época. E um elogio a Jorge Jesus e
à estratégia escolhida para esta eliminatória.