Tottenham à Lupa
Os «Spurs» voltaram a ser britânicos com Sherwood
Ponto forte: capacidade criativa
Ainda que o Tottenham esteja mais britânico com Tim
Sherwood, o plantel continua a ter criativos de grande qualidade, como Eriksen,
Sigurdsson ou Lamela. Jogadores que podem desbloquear um jogo de um momento
para o outro, independentemente do (mau) momento de forma da equipa.
Ponto fraco: infantilidade defensiva
A listagem de erros defensivos infantis é longa, e do jogo
com o Chelsea, do passado sábado, saíram mais três anotações. A escorregadela
de Vertonghen compensada com um corte para a própria área; o deslize de Sandro
a cortar uma bola na área e o atraso suicida de Walker para Lloris. São apenas
os casos mais recentes, que explicam facilmente as várias goleadas sofridas
pelos «Spurs» esta época. Buracos e mais buracos, nos quais caiu André Villas-Boas.
Principal ameaça: Adebayor
O grande mérito de Tim Sherwood foi recuperar a estrela do
Togo. Esquecido por Villas-Boas, Adebayor tem carregado a equipa do Tottenham
às costas, e soma agora onze golos em dezassete jogos. Agora a equipa gira à
sua volta, com tudo o que isso tem de bom e mau (analisado mais à frente).
Onze base
Walker: frente ao Chelsea cometeu um erro incrível, mas até
tem sido o elemento do quarteto defensivo a fazer menos asneiras. Lateral muito
ofensivo, muito dinâmico, que é preciso controlar bem defensivamente.
Dawson: capitão, lesionou-se no sábado e pode ficar de fora
do duelo com o Benfica. Um central tipicamente inglês, forte fisicamente mas
limitado tecnicamente, e também com pouca velocidade.
Vertonghem: Um central com mais classe, mas que também tem
cometido erros, como se viu em Stamford Bridge, jogo em que foi colocado na
esquerda, algo que acontece ocasionalmente.
Rose: lateral baixinho, muito ofensivo, forte no cruzamento
e no remate, mas permeável defensivamente, sobretudo pelo espaço que deixa nas
costas.
Lennon: uma «antiguidade» do Tottenham, mas com apenas 26 anos.
A velocidade é a sua arma, como já se sabe. Com Sherwood tem sido, por vezes,
utilizado como segundo avançado, em redor de Adebayor.
Dembelé: médio belga de grande amplitude de movimentos,
capaz de encher o campo, desde que tenha o devido acompanhamento.
Bentaleb: outra aposta de Sherwood. O médio internacional
argelino, de apenas 19 anos, estreou-se logo após a saída de Villas-Boas, e
agora é presença regular no «onze». Equilibrado taticamente, é possuidor de um
bom pé esquerdo.
Eriksen: em 4x4x2 tem sido utilizado como falso extremo
esquerdo, já que continua a aparecer em zona central, e quase nunca na ala. O
«playmaker» da equipa, seja em que zona for. Tem cinco golos marcados, dois
deles de livre direto.
Soldado: Titular indiscutível com Villas-Boas, deu a
sensação de ressentir-se da troca de treinador e, principalmente, com a
«ressurreição» de Adebayor. Nos últimos tempos passou a jogar ao lado do
togolês, mas anda muito desinspirado. De qualquer forma tem onze golos, tal
como parceiro de ataque.
Outras opções:
Do meio-campo para a frente as alternativas são boas e
variadas. Sobretudo na zona intermediária, com outro «box to box» como
Paulinho, ou jogadores que impõem outra presença física, como Sandro ou Capoue.
E depois Sigurdsson e Lamela, criativos à disposição, mas que têm sido quase
sempre encostados à ala (como Eriksen, conforme referido). O argentino continua
«escondido», mas aquele talento é sempre para ter em conta.
Para as alas há ainda Chadli ou Townsend: um mais versátil,
capaz de aparecer em zonas interiores (cinco assistências e três golos), e o
outro um extremo puro, para explorar a velocidade.
Para a frente de ataque, e com a saída de Defoe para Toronto
(tinha dez golos), sobra apenas a «torre» Harry Kane.
No que diz respeito ao eixo defensivo, Sherwood conta com
Kaboul, que pode ser titular, dadas as dúvidas em relação à condição de Dawson.
Até porque Vlad Chiriches, o promissor romeno que jogou nos juniores do
Benfica, também está com problemas físicos.
Naughton é a alternativa a Walker no lado direito da defesa
e pode ser titular, assim como Fryers do lado oposto. Também não é de descartar
uma mudança na baliza, algo que acontece pontualmente, com o experiente Friedel
a substituir Lloris.
Análise detalhada:
O Tottenham pouco ou nada melhorou com a troca de André
Villas-Bolas por Tim Sherwood. Não se trata de nacionalismo, antes a análise à
realidade atual. Foi renegada a qualidade técnica que o português pretendia, e
a equipa londrina está agora bem mais «british». E isso não é propriamente um bom
sinal.
O regresso ao velho estilo britânico nota-se logo na mudança
para o 4x4x2. Não pelo desenho tático em si, mas pela mentalidade que ele
serve: o plano de jogo passa, essencialmente, por fazer jogo direto para
Adebayor, recuperado por Sherwood.
A decisão de recuperar o togolês foi boa, mas isso não tinha
necessariamente de implicar esta aposta estratégica, até porque o camisola 10
vale mais do que isso.
Os médios já nem recuam no terreno para pegar no jogo, pois
sabem que a saída ou é feita pelos laterais, ou então a bola é metida na
frente, à procura de Adebayor . Quase sempre de forma cruzada: do central do
lado direito para a meia-esquerda, ou do central do lado esquerdo para a
meia-direita [imagem A]. Depois a ideia é rentabilizar as bolas conquistadas
pelo ponta de lança, por vezes apostando num jogador rápido (Lennon) em
detrimento de Soldado.
Criadores de jogo como Eriksen, Sigurdsson ou Lamela têm
sido encostados a uma ala, ainda que nunca aí fiquem, procurando zonas
interiores para pegar no jogo.
Mesmo em organização defensiva nota-se essa tendência para
fugir do flanco, sobretudo com Eriksen, o que deixa muitas vezes exposto o
lateral esquerdo.
O 4x3x3 que Villas-Boas utilizava é agora uma escolha
ocasional, mas quando aparece ainda se nota o dedo do português, como nas
triangulações entre lateral, médio interior e extremo (jogo exterior-jogo
interior-jogo exterior).
O Tottenham defende de forma muito deficitária. Sobretudo
pela frequência abismal de erros individuais, mas também pelas rotinas coletivas.
O esquema adotado, aliado à forma como a equipa se foca nas referências
individuais para fazer a marcação, cria espaço entre linhas que pode e deve ser
aproveitado pelo Benfica.
É frequente ver um dos centrais do Tottenham a sair da sua
posição para acompanhar o avançado que recua no terreno, deixando depois o
espaço na retaguarda, que é facilmente aproveitado através da entrada de um
outro médio, ou mesmo com uma diagonal de um extremo [imagem C]. A lentidão dos
centrais fica visível frequentemente, e o quarteto defensivo responde muito mal
quando pressionado, algo que se tem visto sobretudo nas fases iniciais dos
jogos.