Este Benfica, uma máquina de defender
Oblak, Fejsa e mais duas ou três coisas que mudaram
Desde 15 de dezembro que o Benfica não sofre um golo de bola corrida. É curioso que assim seja, porque o jogo do algarve só sublinhou a má fase que a equipa atravessava. Por essa altura, Jesus via Artur deslocar-se ao fundo da baliza em praticamente todos os jogos.
Do Algarve para cá,
17 jogos e apenas dois golos sofridos. Em
Barcelos, no seguimento de um canto. Em
Londres, de livre direto.
Os quatro defesas têm oscilado um pouco. Sílvio, de vez em quando, até Jardel.
As grandes alterações aconteceram atrás, com a entrada de Oblak, e à
frente, com a titularidade regular de Fejsa, sobretudo depois de Matic
ter rumado ao Chelsea.
As duas alterações têm peso.
Na baliza, Artur estava a ser um foco de instabilidade. Além dos
golos em que teve responsabilidade direta, somou falhas em número
incomum no guarda-redes de um grande. Oblak, sem ainda ter feito uma
exbição notável, passa calma e tranquilidade. E isso ajuda sempre.
À frente da defesa, Fejsa passou a ser um jogador mais presente.
Ao contrário de Matic, que procurava outros terrenos e gostava de ter
a bola, Fejsa é sobretudo um médio que gosta de defender. Sabe
posicionar-se e compreende que a sua tarefa é, antes de qualquer outra,
ajudar a equilibrar a equipa.
Isso faz-se protegendo o centro do terreno, o que lhe permite estar
sempre presente quando é preciso dobrar alguém num flanco ou, muito
relevante, reforçar a zona central. Hoje em dia, o Benfica colocou
portagens em todoas as portagens e autoestradas.
Os principais beneficiados com esta forma diferente de colocar o meio
campo são os defesas, sobretudo os centrais. E é por aqui que chegamos a
Luisão. É verdade que somou dois golos ao que tinha marcado ao
Estoril. Todos eles de enorme importância, particularmente
impressionante o 3-1 em Londres. Paremos um pouco, precisamente aí.
O golo não foi só um bom movimento de Luisão, um gesto de
oportunidade. Ali, o que impressiona é a potência do remate e a
colocação. Só um jogador a viver uma fase de incrível confiança
escolheria aquela opção. Luisão é esse jogador. Dez depois do primeiro
dia na Luz, está a assinar a melhor época.
De máquina temível de futebol ofensivo, o Benfica montou uma máquina
de defender, sem perder a capacidade para incomodar e chegar perto da
baliza do adversário. Para que isto sucedesse, diversos jogadores
tiveram de acreditar que é tão importante reagir à perda de bola como
levá-la para a frente.
De todos os futebolistas,
Gaitan talvez tenha sido o que
mais mudou. É hoje um extremo competitivo, como por exemplo já era
Salvio. Como Markovic aprendeu depressa o que é preciso para jogar ao
mais alto nível, o Benfica consegue utilizar quatro jogadores de ataque
sem se desequilibrar quando tem a bola.
Boa atitude mental, saúde física, concentração e conhecimentos táticos são os ingredientes.
Como se percebe, não é fácil garantir tudo isto junto. Para já, está em
marcha há três meses. Com sucesso inegável. O Tottenham foi o último a
compreendê-lo.
Depois de várias épocas a apostar na vertigem do ataque, e para isso
levando os jogadores ao esgotamento, não deixaria de ser irónico se o
sucesso chegasse no ano em que Jesus mais reparou na necessária
capacidade para defender.
NOTA: Podia escrever que a
provocação de Jesus ao treinador do Tottenham é lamentável, tal como a
explicação
(?) posterior na sala de imprensa. Mas não estaria a ser rigoroso. A
palavra é patético. Um treinador que provoca os adversários e empurra os
elementos da sua equipa. O Benfica não devia ser isto.
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