sábado, 3 de maio de 2014

Como o Benfica aprendeu a ganhar à italiana

Como o Benfica aprendeu a ganhar à italiana

Elogio da estratégia de Jorge Jesus

O mais importante primeiro: o que o Benfica conseguiu em Turim foi fantástico e entrou diretamente para a galeria de noites inesquecíveis das equipas portuguesas na Europa. Jogadores, treinadores, dirigentes e adeptos, todos estão de parabéns. Os jogadores no início da lista, claro, afinal foram eles que deixaram o corpo e a alma.

Dito isto, o Benfica encontrou o final feliz numa das noites em que menos jogou. Os números ajudam a compreender o que se passou: 37 por cento de posse de bola, apenas quatro remates (só um à baliza) contra 19 (sete à baliza) da Juventus e 320 passes, contra 554 dos italianos.

No pior jogo do Benfica esta época, em Paris, a equipa de Jesus teve um pouco menos de bola (35 por cento), mas permitiu muito menos remates (12, nove deles à baliza) e fez mais: nove, quatro à baliza. Quanto a passes, 425, contra 930 do adversário. Claro que os jogos foram muito diferentes. Em Paris a bola entrou três vezes na baliza, e depressa. Em Turim andou perto, mas o facto de ter passado ao lado, mais a expulsão de Enzo, permitiu que o Benfica se mantivesse lá atrás.

Se trago estes números não é para tentar embirrar. Longe disso, até porque seria estúpido. A ideia é precisamente salientar o que o Benfica evoluiu.

Entre Paris e Turim, entre outubro e maio, Jorge Jesus alterou seis jogadores. Matic saiu, Fejsa está lesionado, Maxi Pereira entrou para o lugar de André Almeida. Djuricic há muito que perdeu o comboio. Cardozo é hoje suplente e na baliza joga Artur. Além disto, Enzo voltou ao meio, o que não é um detalhe.

São muitas alterações, mas creio que os nomes nem são o mais importante.

O Benfica 2013/14 é a melhor equipa de Jorge Jesus. Não por ter os melhores jogadores, por marcar mais golos ou por praticar o futebol mais empolgante e esmagar os adversários. Este Benfica é o melhor porque o treinador aprendeu, e os jogadores com ele, que existem diferentes formas de vencer uma partida de futebol. Não apenas uma.

Em Turim, o Benfica só jogou 20 minutos como desejava. Os primeiros 20. Quase tudo o resto foi sofrimento e muito rigor.

Só foi possível chegar ao fim a sorrir porque esta época os «encarnados» têm uma defesa forte (aquele ideia antiga segundo a qual se começa a construir a partir da baliza...), médios muito bons taticamente (o que se nota especialmente quando jogam Ruben Amorim e Fejsa) e porque a dinâmica é feita a partir dos homens da frente e não com o envolvimento de sete ou oito jogadores, como no passado. Ou seja, mesmo quando ataca, o Benfica não se desequilibra.

Na Luz, o Benfica poderia ter tentado jogar de outra forma. Mas foi inteligente. Reconheceu as suas limitações e o poder do adversário e partiu daí para vencer a Juventus.

O outro Benfica, aquele que goleava e empolgava os adeptos, talvez não tivesse vencido esta eliminatória. Não por falta de valor, que o tinha, mas por estar menos preparado para enfrentar desafios como o de Turim e os que teve pela frente nos dois jogos recentes com o FC Porto. E por se expor muito mais. Aliás, só por ser hoje um conjunto mais matreiro, mais unido e mais equilibrado foi possível ao Benfica lembrar à Juventus como se ganha à italiana.

Aliás, ouvir Conte, o treinador da Juventus, acusar o Benfica de antijogo e pressão sobre a UEFA é a declaração (absurda, entenda-se) da época. E um elogio a Jorge Jesus e à estratégia escolhida para esta eliminatória.

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