segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Olympiakos-Benfica: quanto pesa um borrego com 40 anos?

Olympiakos-Benfica: quanto pesa um borrego com 40 anos?

Em 1973, a única vitória portuguesa no Pireu. Toni conta como foi!

Com o futuro na Liga dos Campeões em suspenso, o Benfica vai ter de caçar fantasmas em Atenas, nesta terça-feira, para pôr fim a um enguiço com 40 anos. Foi a 3 de outubro de 1973 que os encarnados venceram, pela primeira e última vez, em casa do Olympiakos. Daí para cá, nenhuma outra equipa portuguesa o conseguiu, e não por falta de oportunidades. 

Distribuídas por Benfica e FC Porto, cinco derrotas em outras tantas tentativas ajudam a fazer da visita ao Pireu um dos maiores papões atuais para os representantes lusos na UEFA. E bastaria a memória da última visita encarnada, há cinco anos, para o confirmar: o argentino Belluschi, que no ano seguinte rumaria ao FC Porto, foi um dos protagonistas da goleada por 5-1, o desaire europeu mais pesado da última década, ponto mais baixo da passagem de Quique Flores pela Luz. Maxi Pereira e Rúben Amorim foram os jogadores do atual plantel utilizados nessa noite.

Para Toni, que como jogador e técnico conheceu as duas faces da moeda em jogos na Grécia, o borrego de quatro décadas não tem explicação lógica: «No futebol, se as coisas assentassem sempre na lógica era muito mais fácil acertar nos resultados. É verdade que tem havido sub-rendimento das equipas portuguesas na Grécia, mas isso não corresponde à realidade dos dois futebóis», lembra o homem que em 1973 era a referência mais recuada do meio-campo encarnado.

Encarnado não, corrige Toni: «Por acaso nesse jogo equipámos de branco. Estava um ambiente tremendo, e fizemos uma grande exibição, com as linhas bem juntas e um bloco médio-baixo, como se diz agora. Para além do Eusébio, tínhamos Nené e Jordão na frente. Eram rapidíssimos, duas autênticas setas, e podíamos ter ganho por mais», lembra a propósito do golo solitário de Nené que garantiu o apuramento.

Um triunfo saboroso, uma semana depois de Jimmy Hagan ter deixado o comando da equipa encerrando um ciclo de enorme sucesso. Na Grécia, nunca mais voltou a ser assim, tão fácil. Dez anos depois, Toni voltou a Atenas, já como adjunto de Eriksson, e o reencontro com as camisolas listadas de vermelho e branco foi mais amargo: «Apanhámos um árbitro jugoslavo, que nos enterrou muito. Perdemos 1-0, e tivemos sorte porque o Anastopoulos ainda falhou um penálti. Mas depois demos a volta, na Luz e ganhámos por 3-0», lembra.

Se esse desaire acabou por não ter consequências para o Benfica, o mesmo já não pode dizer o FC Porto, que entre 1997 e 1999 visitou em três temporadas consecutivas o estádio Olímpico de Atenas, saindo sempre derrotado. Só à terceira vez a derrota não impediu o apuramento para a fase seguinte da Liga dos Campeões. E, de todas as vezes - a tal goleada de 2008 será a única exceção a esta regra - a mesma sensação de uma derrota evitável, perante um adversário que, no papel, nada indicava ser mais forte.

Toni bem procura, mas não encontra a resposta para os problemas crónicos: «O ambiente é sempre intenso, e hostil mas não é por aí. O Benfica já enfrentou e venceu em ambientes semelhantes. E, se não, Portugal nunca teria perdido a final do Euro-2004 a jogar em casa, com o apoio que teve», lembra. A tradição negativa também é algo a que o antigo treinador não atribui grande significado: «O passado, as qualidades técnicas, o público não são razões lógicas para acreditar na fatalidade de um enguiço. É verdade que se nos agarrarmos a estas malapatas elas acabam por condicionar a forma como se abordam os jogos. Mas com as mudanças nos plantéis as equipas também cultivam menos as memórias. A equipa do Benfica que venceu em 73 não tinha um único estrangeiro. Agora, se Benfica e Porto jogarem com dois portugueses já é muito. E três, já conta como manifestação», conclui.

Fixando-se concretamente no jogo desta terça-feira, Toni vê alguns motivos de esperança, mesmo depois do empate cedido na Luz, há duas semanas: «O Benfica ainda não encontrou o rumo e a consistência da época passada. Mas se as pedras nucleares (Matic, Enzo Pérez, Gaitán) aparecerem no rendimento que era normal há um ano, e se houver estabilidade nas laterais, os princípios coletivos já lá estão implantados. Nos últimos jogos houve alguns sinais de melhoria desses elementos, e se eles aparecerem o Benfica pode discutir a vitória e o apuramento», conclui. Mesmo com o peso de um borrego com 40 anos às costas.

Olympiakos em casa com portugueses

2008/09 (Liga Europa)
Olympiakos-Benfica, 5-1

1999/00 (Liga dos Campeões)
Olympiakos-FC Porto, 1-0

1998/99 (Liga dos Campeões)
Olympiakos-FC Porto, 2-1

1997/98 (Liga dos Campeões)
Olympiakos-FC Porto, 1-0

1983/84 (Taça dos Campeões)
Olympiakos-Benfica, 1-0

1973/74 (Taça dos Campeões)
Olympiakos-Benfica, 0-1

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