terça-feira, 14 de janeiro de 2014

«4x4x3»: Jesus aceitou o desafio e saiu de braços erguidos

«4x4x3»: Jesus aceitou o desafio e 

saiu de braços erguidos


O técnico do Benfica jogou de peito feito, 

como tanto gosta, mas sem perder o equilíbrio

«4x4x3»: Jesus aceitou o desafio e saiu de braços erguidos

Quando Artur Soares Dias decidiu encerrar uma sequência de equívocos e apitou pela última vez, na Luz, Jorge Jesus ergueu os braços. Quatro anos depois, o técnico do Benfica voltava a ganhar ao FC Porto para a Liga. Depois da vitória no primeiro clássico, a 20 de dezembro de 2009, seguiram-se sete duelos sem vitórias, no que à Liga diz respeito. Uma derrota com Jesualdo Ferreira, duas com André Villas-Boas e outras tantas com Vítor Pereira, com quem somou ainda dois empates.

Agora com Paulo Fonseca pela frente, Jesus voltou a vencer um clássico. Desafiado durante a semana, o técnico do Benfica decidiu aceitar o «repto» que lhe foi lançado, só que desta vez não se ajoelhou perante o adversário.

Jesus começou a ser «desafiado» na sexta-feira, quando Vítor Pereira, em entrevista publicada pelo jornal «O Jogo», disse que o técnico encarnado abdicava sempre da identidade da sua equipa nos clássicos, algo que o agora treinador do Al Ahli via como sinal de receio. Confrontado com estas declarações, Jesus recusou comentar.

Na antevisão do encontro por parte de Paulo Fonseca, desta vez na véspera do jogo, ao contrário do que é habitual (dois dias antes), o técnico portista arriscou um palpite: o Benfica não jogaria com dois avançados.

De forma intencional ou não, Jesus foi «desafiado» nestes dias anteriores ao jogo. Incitado a não mostrar receio, a não abdicar do esquema tático mais utilizado no Benfica. A resposta foi inteligente: mantendo-se fiel ao 4x4x2, o técnico montou um Benfica audaz mas prudente, arreganhado mas inteligente.



O técnico do Benfica tinha legitimidade para apostar no 4x3x3. Era o que eu faria, provavelmente. Não seria uma «manobra radical» como outras, não seria sinal de recuo. É algo que o Benfica tem utilizado algumas vezes esta época, e com bons resultados. Para mim o melhor formato deste Benfica.

Mas Jorge Jesus teve a inteligência de não ver apenas o sim e o não, pensou no talvez. Montou um Benfica com dois avançados mas sem a vertigem ofensiva habitual. Os extremos foram inexcedíveis sobretudo na primeira linha de pressão, mas também no apoio aos laterais, que por sua vez arriscaram bem menos nas subidas.

Com um bloco coeso e a linha defensiva ligeiramente subida, o Benfica criou condições para pressionar a zona de início da construção dos ataques portistas. Chateou os centrais e os laterais, impediu que Lucho tivesse liberdade para recuar no terreno e pegar no jogo (veja-se o lance do primeiro golo).

A equipa azul e branca errou muitos passes ao sair da zona defensiva, quando não se via obrigada a fazer futebol direto, para agrado da defesa benfiquista, com os centrais a superiorizarem-se a Jackson Martínez.

Sem conseguir colocar a bola no chão, o FC Porto nunca tirou proveito da téorica superioridade na zona intermédia, e consequentemente não conseguiu alimentar o tridente ofensivo (só Jackson pelo ar). Lucho e Carlos Eduardo foram bem anulados, num meio-campo que voltou a estar distribuído apenas em duas linhas de posicionamento (2+1), e não três (1+1+1), como era habitual no passado. 
Na época passada:
Esta época:
Ficou facilitada a tarefa de Matic e Enzo, com o sérvio a preocupar-se sobretudo com Carlos Eduardo, e o argentino a dividir-se entre Fernando e Lucho (com alguma ajuda de Rodrigo). Nenhum médio portista aparecia entre linhas, a desequilibrar, permitindo que Enzo conseguisse, posicionalmente, controlar dois adversários.

Paulo Fonseca estaria, provavelmente, à espera dos dois avançados, mas ainda assim não conseguiu tirar proveito disso. O FC Porto voltou a revelar problemas já detetados, mas que andaram escondidos nos últimos tempos, para além de uma postura bem menos confiante do que o rival. E o jogo foi mais paixão e entrega do que xadrez.

Sem recortes para afixar na parede do balneário, sem matéria para «espicaçar» o plantel, num ambiente bem mais pacífico do que é habitual, na sequência da morte de Eusébio, os «dragões» tiveram pouca chama. O Benfica, por outro lado, mostrou-se embalado pela vontade de homenagear Eusébio.

O Benfica chegou primeiro, saltou mais alto, entrou mais forte à bola. Jorge Jesus jogou de peito feito, como gosta, mas sem perder o equilíbrio.

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