domingo, 10 de agosto de 2014

O grito do campeão

O grito do campeão (0x0; 3x2 g.p)
Dia de festa em Aveiro, com o regresso do futebol 'a contar' aos estádios portugueses. A primeira taça da época, a Super, vai de viagem até ao Estádio da Luz, porque Artur Moraes resolveu a partida nos penáltis. O guarda-redes foi Rei na marca dos 11 metros, depois de ter estado inseguro no tempo regulamentar e no prolongamento. O futebol também é mágico e apaixonante por causa destas coisas.

Com Enzo, Gaitán e Luisão o Benfica é outro, naturalmente

Benfica e Rio Ave chegaram a Aveiro em diferentes momentos psicológicos. Se as águias buscavam uma espécie de consistência redentora, os vilacondenses tentavam dar seguimento ao bom momento que levam, depois da qualificação para o playoff da Liga Europa.
No jogo abertura oficial da época, em Portugal, que é já um clássico que se joga a norte, no mês de agosto, as duas equipas entraram para vencer no palco aveirense que voltou, este domingo, a receber uma grande enchente. Curiosamente, a última tinha sido quando o Benfica defrontou o Arouca, em jogo do último campeonato, neste mesmo estádio.
Depois de uma pré-época marcada pela inconsistência, o campeão nacional queria mostrar que está aí para “as curvas” e pretendia “varrer” todas as dúvidas para “debaixo do tapete”.
Comecemos pela proximidade : o que não fez. Depois do “descalabro” da pré-época a equipa de Jesus tinha de mudar. Racionalmente (leia-se, com utilidade prática). Nas contas dos adeptos trocar de guarda-redes não bastava. Era preciso mais. Mas Jesus foi cauteloso. Por isso Artur Moraes voltou para a baliza, apesar dos erros que colecionou nos jogos de preparação. Não sabemos como foi tratada a recuperação psicológica da equipa, no geral, e do guardião, em particular, mas o facto é que Jorge Jesus ficou-se pelos “mínimos olímpicos” no que a mudanças diz respeito, sustentando a permanência de uns quantos (muitos) que são homens de confiança do técnico. Casos de Nico Gaitán, Enzo Pérez e Luisão, que foram jogadores muito utilizados na última época.
Enzo regressou à equipa e foi dos jogadores em maior destaque na partida da Supertaça 
Do lado do Rio Ave, Cássio, Prince e Pedro Moreira foram os reforços que jogaram de início.
A grande incógnita esteve sempre em perceber como é que a equipa de Jorge Jesus iria entrar em campo depois da debandada de jogadores que ocorreu ao longo da janela de transferências e das derrotas sofridas durante a pré-época, algumas delas com goleadas comprometedoras. O atual estado de espírito das águias era, por isso, a dúvida maior para aferir em Aveiro.
As circunstâncias mudaram muito para os lados da Luz, é verdade, mas o Benfica continuava a ser, esta noite, favorito óbvio, contra a equipa sensação da última época.
Os adeptos, sempre em constante preocupação, queriam ver uma resposta cabal da sua equipa agora que a alta competição era mesmo 'a doer'. Qualidade, organização, consistência e harmonia... tudo para analisar no Benfica de Jorge Jesus versão 2014/2015.
O Benfica, que na última temporada esbanjava confiança, viu uma inversão da tendência. O Benfica, que nos últimos anos era conhecido como o campeão da pré-época, entrava em campo com o “fantasma” das derrotas nos jogos de preparação – irónico, não?
Em Aveiro, viu-se mais do mesmo no futebol encarnado... quando estão em campo nomes como Enzo, Luisão e Gaitán. O treinador é o mesmo e o jogo da águia assenta nos mesmos princípios, na mesma identidade e apesar de não ter a mesma intensidade, o mesmo pressing ofensivo, a mesma capacidade de romper pelas alas e de criar oportunidades de golo, embora a esta altura da época também não seria fácil ter.
Talisca foi um dos reforços utilizados por Jesus em Aveiro 
Sem Oblak, Siqueira, Garay ou Rodrigo, Jesus não quis encarar a derivação para uma nova realidade. No entanto, uma coisa é um Benfica fabricado numa determinada lógica funcional outra bem diferente é ter intérpretes que não foram concebidos para ele como, para já, é o caso de Talisca. O que nos leva a outra questão: este Benfica tem o seu ADN (desde que Jesus pegou na equipa), mas estes jogadores (alguns deles, diremos) ainda não sabem. De nada serve tentar separar uma componente da outra, porque estamos a falar do mesmo.
A equipa de Jesus apresentou um nível agradável de intensidade no jogo e fez os adeptos voltar a ganhar confiança. Lima, Enzo, Gaitán e Salvio foram colecionando ocasiões de golo e até Talisca. O reforço, ainda em busca de rotinas no seio da equipa, apareceu várias vezes solto de marcação mas ainda não é um Rodrigo, se é que Jesus quer fazer dele uma “cópia” à imagem do avançado que agora está no Valencia.
Do outro lado, tudo foi diferente. O conjunto de Pedro Martins, que na última época chegou às finais da Taça da Liga e da Taça de Portugal frente aos encarnados, apresentou-se em Aveiro com alguns complexos frente ao Benfica, por sinal o campeão do nosso futebol e vencedor das taças de Portugal e da Liga da última época.
O conjunto de Vila do Conde não foi exuberante - nem pouco mais ou menos -, e procurou sempre sacudir a pressão encarnada, não olhando a águia bem de frente como fez nas outras finais.
Luisão nas alturas a comandar a defesa do Benfica 
Ao intervalo, um nulo chato a castigava o Benfica que merecia ir a vencer para os balneários face às ocasiões de golo que foi colecionando no primeiro tempo.

Marcelo a "limpar" a casa

No segundo tempo o jogo manteve a matriz. O Benfica, mais competente, ia tentando chegar ao golo mas esbarrava no inspirado Cássio, guarda-redes com muita experiência já nas provas portuguesas de futebol e que ia segurando o nulo em Aveiro. Também Marcelo deu força e classe ao setor defensivo do Rio Ave, deixando indicações para os olheiros de outros clubes mais "endinheirados".
Apesar de tudo havia menos Benfica do que na primeira parte e mais Rio Ave. Estava mais afoito no ataque o conjunto vilacondense.
O jogo foi-se arrastando até ao final do tempo regulamentar e nenhuma das equipas foi capaz de marcar. Restava esperar pelo prolongamento. Mais 30 minutos na noite de Aveiro.
Artur brilhou nos penáltis
Tal como no tempo regulamentar, o Benfica entrou a todo o gás. Logo aos 91 minutos,  Jardel cabeceou com muito perigo, depois de um livre batido por Gaitán, Cássio tirou sobre a linha de golo.
Naquela que foi a terceira vez que uma Supertaça foi a prolongamento (as anteriores foram 90/91 e 92/93, ambas entre FC Porto e Benfica), as águias estiveram sempre por cima em busca do golo. Mas o Rio Ave não deixou de procurar o golo. E a melhor chance de golo do prolongamento foi dos vilacondenses. 
Aos 118 minutos, canto na esquerda marcado por Ukra, Artur sai (muito) mal, desvia a bola e Jardel quase marca na própria baliza, atirando a bola à barra!
Depois chegou o apito para o fim do prolongamento e vieram as decisões das grandes penalidades. Aí o Benfica foi mais forte e leva a Supertaça para casa.

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