domingo, 10 de novembro de 2013

Cinco questões deixadas pelo dérbi


Cinco questões deixadas pelo dérbi

Do 4x3x3 de Jesus à dupla de centrais do Sporting, passando pelos miúdos que entraram em cena

Rico em incidentes e peripécias, o dérbi de sábado deixou algumas questões para acompanhar nas próximas semanas. Eis cinco delas, repartidas pelas duas equipas.

Benfica

1. O 4x3x3 é para manter?
Em Atenas e no dérbi Jorge Jesus validou os ensaios do final dos jogos com Nacional e Académica, reforçando o meio-campo com a inclusão de Rúben Amorim. Cardozo tornou-se a única referência de ataque, mudando a identidade da equipa em relação aos últimos cinco anos. Nesse período, o paraguaio teve sempre a companhia de um segundo avançado (Saviola, Aimar, Rodrigo, Lima...) e o Benfica desequilibrava na frente com acelerações dos extremos. Em parte provocado pela falta de alternativas à lesão de Salvio e pela forma irregular de Matic, o 4x3x3 deixa o Tacuara mais desacompanhado, o que é compensado pelo seu bom momento (mais mobilidade do que o habitual) e pela utilização de Markovic como falso extremo, a procurar sempre as zonas interiores nas aproximações à área. 

Os efeitos na equipa são claros: nos 90 minutos de Atenas, e nos primeiros 50 do dérbi, até começarem os problemas físicos de Rúben Amorim, o Benfica equilibrou o meio-campo como raramente o tinha feito até aqui, resolvendo problemas defensivos (Matic mais solto para as compensações sobre André Martins) e ofensivos (Enzo mais perto da área, como se viu no lance do 2-1). O dilema de Jesus, nesta fase é este: manter o desenho que dá consistência, pelo menos até à recuperação de Salvio, pode limitar as soluções ofensivas perante adversários muito fechados. Por outro lado, se a lesão de Rúben Amorim se prolongar, quem poderá fazer o papel de terceiro médio? Fejsa é opção natural, mas joga como 6, o que empurra Matic para terrenos mais adiantados. A opção por Djuricic sobrecarrega Matic e Enzo defensivamente, tirando coesão ao triângulo a meio-campo. Nesse sentido, os minutos dados a André Gomes no dérbi podem vir a ganhar significado nos próximos jogos.

2. Bolas paradas: que fazer?
Questionado sobre o sexto golo sofrido de canto no último mês e meio, Jorge Jesus admitiu algum desconforto com a forma como os adversários atacam facilmente a marcação à zona dos encarnados nas bolas paradas defensivas. Mas mais eloquente do que a resposta do técnico foi o facto de, nos dois cantos que se seguiram ao golo de Maurício, a equipa ter modificado a arrumação defensiva, pondo mais gente nas imediações da pequena área e aumentando a proximidade das marcações. O Benfica não voltou a ser ameaçado a partir de canto, mas consentiu o golo da igualdade num livre lateral, em mais um lance que expôs a forma precária de Garay, que avaliou mal a trajetória da bola, permitindo que Slimani cabeceasse nas costas. 

O segredo costuma ser a alma do negócio, e não será natural que Jesus ou os jogadores venham anunciar em público alguma mudança de estratégia. Mas a vulnerabilidade nos cantos (seis golos em 15 nesta época) é demasiado gritante para continuar a ser justificada com erros de circunstância.

Sporting

3. Slimani é só solução de recurso?
Na reviravolta com o Marítimo e na recuperação perante o Benfica, Leonardo Jardim mexeu no desenho da equipa, passando para um 4x4x2, com o objetivo de dar companhia mais próxima a Montero. De características opostas ao colombiano, o argelino mexeu com o jogo das duas vezes, marcando golos fundamentais e ajudando a acentuar a pressão pela presença na área, especialmente nas bolas paradas. Mas também desperdiçou ocasiões claras, sublinhando o contraste com o estilo mais trabalhado da equipa e sublinhando uma dúvida: será produtivo tê-lo mais tempo em campo, ou os efeitos da sua presença só são eficazes no momento em que o desgaste se acentua e o jogo parte?

A pergunta tem ainda mais razão de ser numa altura em que Montero passa por um jejum de três jogos. Apesar das excelentes movimentações na Luz, o colombiano só aos 119 minutos dispôs de uma situação de remate na área, o que sugere alguma perda de qualidade na forma como está a ser servido. Com mais dificuldades em ganhar a linha de fundo do que no início de época, pelas quebras de rendimento de Wilson e Carrillo, o Sporting pode ganhar alguma coisa com outra referência na área, o que equivale a sacrificar alguma paciência e precisão nos ataques em favor de aproximações mais frequentes e diretas. A mudança de chip é radical, mas talvez venha a ser necessária em alguns jogos.

4. Maurício-Rojo: chegam para o resto da época?
O penálti «oferecido» por Maurício no Dragão custou a titularidade ao brasileiro no jogo seguinte. Mas Dier não fez melhor diante do Marítimo, e Jardim retomou a dupla habitual para o dérbi. Maurício valeu um golo de canto – o segundo da temporada – mas o eixo defensivo voltou a tremer com demasiada frequência para um jogo de alta voltagem, trazendo de volta a ideia de que falta uma voz de liderança à defesa leonina. Rojo, em particular, repetiu desconcentrações comprometedoras, com destaque para a abordagem desastrada ao lançamento lateral que originou o golo de Luisão e ao segundo amarelo visto num lance que Ivan Cavaleiro já tinha perdido. A expulsão vai afastá-lo do jogo com o V. Guimarães, o que deverá dar outra oportunidade a Dier. O castigo interno a Rúben Semedo sublinha a escassez de alternativas para o lugar e define a prioridade imediata para um eventual reforço de fim de ano.

Benfica e Sporting

5. Que espaço para os miúdos?
Novidade refrescante no dérbi, a confiança que os dois treinadores demonstraram em jogadores jovens e pouco utilizados na equipa. O caso mais interessante passou-se com a aposta de Leonardo Jardim em Carlos Mané, nos dois últimos jogos. O batismo, com o Marítimo, deu-se com a reviravolta consumada, mas no dérbi o miúdo entrou para agitar e agitou mesmo, sendo influente na conquista do prolongamento e protagonizando um lance para penalti não assinalado. Face à quebra de Carrillo e Wilson, o Sporting parece ter ganho, no mínimo, um «joker» capaz de agitar o jogo e os adeptos. Ao mesmo tempo, dando sequência ao caderno de encargos que assumiu à chegada, o técnico continua a passar uma mensagem encorajadora para os nomes da equipa B com legítimas ambições de chegar à primeira equipa, casos de Tobias Figueiredo, Chaby ou Esgaio.

Por sua vez, Jorge Jesus, que depois de Coimbra tinha arrefecido o entusiasmo em redor de Ivan Cavaleiro, ao lembrar que o jovem extremo está ainda uns passos atrás da concorrência, surpreendeu toda a gente ao lançá-lo num momento crítico, quando Rúben Amorim se lesionou. Depois, recuperou André Gomes - que andava afastado da equipa principal há mais de um mês, desde o desaire de Paris - para equilibrar o meio-campo no prolongamento. As respostas foram positivas e, mesmo sendo Jesus um técnico que não prima pela consistência na aposta em jovens, terão servido para manter entreabertas as portas da primeira equipa nos próximos tempos. Mesmo num contexto difícil, o dérbi ajudou a que nomes como João Cancelo ou Bernardo Silva possam continuar a sonhar.

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