terça-feira, 12 de novembro de 2013

João Querido Manha demolidor com frango de Rui Patrício no derby da Taça

João Querido Manha demolidor com frango de Rui Patrício no derby da Taça

Por muito esforço que alguns tenham feito e vão continuar a fazer no jogo das palavras, o último dérbi terá um lugar na história e não será por causa dos erros de arbitragem, por mais graves que tenham sido. Será para sempre o dérbi de Rui Patrício, por causa de um lance invulgar, altamente penalizador, a partir de uma falha de concentração, depois de quase duas horas de extrema intensidade e pressão.

Parafraseando o presidente do Sporting, é realmente uma enorme palermice tentar desfocar a ordem de importância dos fatores decisivos deste jogo inesquecível, a saber: primeiro, o erro de Patrício, depois, os três golos de Cardozo e, finalmente, o imbróglio em torno da verdade desportiva. É assim que a história reserva um espaço para este embate, digno de uma final, mas disputado numa fase tão precoce da Taça de Portugal. Nenhum penálti por assinalar tem o valor simbólico de um golo sofrido por entre as pernas de um guarda-redes e esta imagem colar-se-lhe-á à pele e ao currículo para sempre. E daí?

Quem conhece minimamente a história do futebol nacional saberá o valor e a influência que, Costa Pereira teve na grandeza do Benfica (e da Seleção Nacional) dos anos 60. Foi um grande, mas sempre num patamar abaixo dos Damas e dos Bentos, por causa de um golo sofrido assim, numa bola pífia, por baixo das pernas, na final de Milão. A história é o homem e a sua circunstância, não há escapatória.

Muitos sportinguistas insurgiram-se ontem contra o relevo dado pelo Record ao momento do jogo, uma extraordinária foto de Paulo Calado, chegando alguns a alegar a falta de patriotismo dos editores, tendo em atenção o próximo jogo da Seleção. Muitos benfiquistas, pelo contrário, consideraram muito frouxa a opção de deixar de fora do léxico garrafal o "frango" e o "peru" que estiveram nas mesas de tantas conversas de domingo.

Rui Patrício ainda vai a meio de uma carreira que teve um início fulgurante, mas tem vindo a estagnar pela dificuldade em conquistar títulos, mantendo-se no topo da confiança do selecionador, mas ultrapassado sistematicamente nas escolhas dos grandes clubes europeus.

O moral da história do dérbi, à face desta incontornável situação, é que os erros dos guarda-redes, que são muito raros e, por isso, iconográficos, têm custos pessoais incomparavelmente mais graves que os dos árbitros, que são banais.

- João Querido Manha, jornal Record, 11 de Novembro de 2013

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