Os cantos de Aquiles que irritam Jesus
Benfica já sofreu mais golos de canto esta época do que em
toda a temporada passada
Para analisar a derrota do Benfica em Atenas não basta olhar
para a baliza do Olympiakos e pensar na notável exibição de Roberto Jiménez. É
preciso não esquecer também aquilo que se passou do outro lado, recordar o golo
da equipa grega. O calcanhar de Aquiles do Benfica foi, uma vez, um pontapé de
canto.
Dos doze golos sofridos pelas «águias» até ao momento, cinco
foram na sequência de cantos. Quase metade, portanto. Primeiro Diakité
(Belenenses), depois Marquinhos e Ibrahimovic (PSG), mais tarde Balboa
(Estoril) e agora Manolas (Olympiakos). Um número naturalmente relevante,
sobretudo se tivermos em conta que o Benfica apenas sofreu quatro golos de
canto em toda a época passada!
Tirando o golo de Marquinhos, que resulta de uma segunda
vaga de ataque, após um corte incompleto da defesa benfiquista, todos os outros
tentos foram apontados de cabeça. E quase todos da mesma posição,
sensivelmente.
Jesus abordou esta tendência após o jogo no Estoril.
«Normalmente não sofremos golos assim. Temos que tentar corrigir algo, mas não
é uma situação posicional. Temos de ser mais agressivos nas nossas zonas, pois
os nossos adversários estão a ganhar situações de finalização, não direi com
facilidade, mas algumas vezes», referiu então.
O recado não terá resolvido a situação. Nesta terça-feira o
Benfica voltou a sofrer um golo de canto. As «águias» abordam estes lances com
uma defesa à zona, em forma de «L». Três jogadores em linha com o primeiro
poste (o lateral desse lado mais Matic e Cardozo, normalmente), e depois uma
linha de três jogadores no limite da pequena área, paralela à baliza (Luisão e
Garay com o outro lateral).
Balboa conseguiu marcar entre os centrais encarnados, mas
Diakité, Ibrahimovic e Manolas foram felizes mais atrás. Nestes três casos os
cabeceamentos surgiram entre o segundo central (Garay) e o lateral mais
distante, aproximadamente. Tal como Ivanovic na final da Liga Europa.
Um problema de cariz sobretudo europeu
Perante estes dados, o Maisfutebol consultou um técnico com
fama de trabalhar muito bem estes aspetos. E proveito, já agora, que sob o seu
comando o Vitória de Setúbal marcou sete golos de bola parada esta época.
José Mota assume desde logo que não é fã de uma defesa à
zona. «Sou a favor de uma defesa mista: três homens no primeiro poste, ali onde
pode surgir um desvio, e a partir dali cada um é responsável por uma marcação»,
explica.
«Se tivesse jogadores altos talvez usasse uma defesa à zona.
Mas no campeonato. Na Europa tenho a certeza que não», acrescenta o técnico.
Mota entende que o nível europeu não aconselha a aposta numa
defesa à zona, e entende que os jogos das equipas portuguesas têm provado isso.
«Na nossa Liga não há muitos jogadores fortes no jogo aéreo, e por isso a zona,
com jogadores fundamentais em determinados pontos, pode ser uma vantagem. Mas
nas provas europeias é mais difícil, como ficou evidente no golo do Olympiakos.
As equipas portuguesas têm sentido dificuldades nesse aspeto. Na Liga dos
Campeões estão os melhores do mundo, tanto a cobrar os cantos, de forma tensa,
como depois no jogo aéreo», explica.
Os dados suportam a opinião de José Mota. Dos cinco golos de
canto sofridos pelo Benfica, esta época, três foram na Liga dos Campeões. E os
quatro golos de canto sofridos em 2012/13 surgiram todos nas provas europeias
(Samaras [Celtic]; autogolo de Jardel [Bordéus]; Korkmaz [Fenerbahçe] e
Ivanovic [Chelsea]).
Questionado sobre qual a estratégia mais utilizada na Liga,
José Mota respondeu a defesa mista, aquela que prefere. «Nunca fui a favor da
zona. Não posso fazer isso contra o Mangala, o Jackson ou o Luisão. Tem de
haver marcação a esses jogadores. As melhores equipas do mundo fazem-no»,
justifica.
O técnico que deixou
recentemente o comando do Vitória de Setúbal defende que é preciso «pensar no
adversário». «Se estou a jogar contra o Luisão ele não pode vir de encontro à
nossa defesa sem ninguém a tapar-lhe o caminho. Dessa forma ele vem com tudo»,
exemplifica.
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