domingo, 20 de abril de 2014

A importância das boas decisões de mercado

A importância das boas decisões de mercado
De Siqueira a Markovic, por exemplo. Com passagem pelas outras: por Pizzi, Cortez ou Funes Mori.
O título do Benfica começou num verão particularmente irrequieto: o campeão contratou muito, e nem sempre pareceu fazê-lo bem. Vários reforços chegaram e partiram de imediato. 
Pizzi, que custou seis milhões de euros por metade do passe, foi o caso mais mediático, ele que foi logo cedido ao Espanhol, mas não foi caso único. Lisandro LopezMitrovic e Luis Fariña, por exemplo, seguiram o mesmo caminho. 
Do lado reverso da medalha há a sublinhar sobretudo três nomes: contratações acertadas e que viriam a tornar-se fundamentais no título. Fala-se aqui de Markovic, Siqueira e Fejsa. Numa segunda linha é preciso falar de Sílvio. Curiosamente destes quatro nomes dois deles (Siqueira e Sílvio) estiveram na Luz apenas por empréstimo. 
Menos felizes, pelo menos para já, foram as apostas em Sulejmani, Djuricic, Funes Mori e Steven Vitória: jogadores utilizados muito esporadicamente. 
Abaixo destes ficou Cortez, dispensado logo em dezembro. Ainda fez 496 minutos, num total de seis jogos na Liga, mas somou exibições frágeis. A boa notícia é que o brasileiro veio por empréstimo: o Benfica aprendeu com erros do passado (Shaffer, Emerson e Luisinho, por exemplo). 
Mas por partes. 
1. Markovic Um talento raro. Com apenas 20 anos tornou-se um incontornável no onze de Jorge Jesus. Aproveitou a lesão de Salvio para ganhar a direita do ataque, somando 25 jogos na Liga, num total de 1634 minutos de utilização. Chegou envolto num secretismo pouco comum, sabendo-se através do relatório e contas do Benfica que assinou contrato até 2018 e custou mais deseis milhões de euros por metade do passe. Um valor elevado, é certo, mas justificado por um futebol vertical e vertiginoso, por cinco e por cinco assistências. Foi o oitavo jogador mais utilizado por Jesus, o que diz tudo no fundo. 


2. Siqueira Sílvio e, sobretudo, Cortez não estavam a deixar Jesus convencido, pelo que o clube garantiu em cima do fim do período de transferências uma paixão antiga: Guilherme Siqueira foi contratado por empréstimo do Granada perto da meia-noite de 2 de setembro. Aos 27 anos, e apesar de uma lesão pelo meio, o brasileiro impôs-se naturalmente. Fez 17 jogos, todos como titular, num total de 1362 minutos. Fez um golo (na vitória por 2-0 sobre o Nacional) e uma assistência, mas sobretudo trouxe consistência e segurança ao velho e complexo problema do Benfica: a lateral esquerda. Tem uma cláusula de opção de sete milhões, ficará no Benfica? 
3. Fejsa Será o melhor exemplo das boas decisões de mercado esta época: chegou no fim de agosto, e foi contratado a pensar numa provável venda de Matic. Nos primeiros cinco meses fez apenas sete jogos para a Liga, a partir da saída de Matic para o Chelsea (e em apenas três meses) só falhou uma jornada. Depois de cinco meses a compreender os processos da equipa, impôs-se e tornou a ausência de Matic um pormenor. Fez 16 jogos, num total de 1348 minutos, e deu aos centrais uma proteção que já não se via desde a saída Javi Garcia. Talvez por isso nos últimos quinze jogos da Liga doméstica, o Benfica só sofreu golos em dois deles. 
4. Sílvio Foi o jogador mais azarado da época do Benfica. Chegou, tal como Siqueira, por empréstimo, com a vantagem de poder jogar na direira e na esquerda da defesa. A temporada ficou marcada porém por duas operações, a primeira ainda em agosto, a segunda em abril, com outra lesão pelo meio. Perdeu praticamente quatro meses da época. Mesmo assim foi o quarto reforço mais utilizado, somando oito jogos e 648 minutos. O que mostra que seria uma séria opção se não fosse tanto azar... 
5. Sulejmani Chegou a custo zero, é verdade, mas é um custo zero relativo: o Relatório e Conta diz que o Benfica pagou 4,25 milhões de euros à empresa que o representa como prémio de assinatura. Por isso, e porque se trata de um atleta com 25 anos, esperava-se mais: 292 minutos num total de dez jogos é pouco. Sulejmani passou a primeira temporada muito no banco, mesmo que Gaitán e (sobretudo) Salvio tenham estado lesionados, num sinal de que a adaptação ainda não é completa nesta altura. 


6. Djuricic Fez uma temporada muito àquem das expetativas, tal como Sulejmani. A diferença é que neste caso Djuricic parece mais longe do que o compatriota de ser um produto esgotado. Chegou com 21 anos, fez 22 em janeiro, tem margem portanto para se afirmar na equipa nas próximas épocas. Contra ele tem as expetativas geradas pelos seis milhões de euros que o Benfica pagou pelo passe. Para já, ao fim de 226 minutos num total de nove jogos, está muito longe de justificar a aposta que o clube fez. 
7. Funes Mori e Steven Vitória Tratou-se de duas aquisições a baixo custo: Steven Vitória chegou a custo zero, ao passo que o preço de Funes Mori foi amortizado com a venda de Rodrigo Mora. Talvez por isso não se esperava muito deles, e eles corresponderam: fizeram muito pouco. Funes Mori jogou apenas29 minutos no empate caseiro com o Arouca, Steven Vitória ainda não se estreou. Em compensação jogaram bem mais na equipa (12 e 7 jogos, respetivamente) e devem ter dado muito jeito nos treinos de conjunto. 
No cômputo geral, portanto, numa época em que o Benfica contratou doze jogadores e gastoupouco mais de 41 milhões de euros, aumentando também o investimento em salários em cerca de cinco milhões de euros (de 19, 7 para 24,1 milhões), a sensação é que a equipa investiu bem. 
Siqueira e Markovic foram peças fundamentais na equipa, o primeiro por ausência de soluções, o segundo pela lesão de Salvio, e Fejsa permitiu o encaixe de 25 milhões com a venda de Matic. Sílvio seria também uma excelente solução para as laterais, mas o azar das lesões diminuiu essa possibilidade. 
Nem tudo foi perfeito, claro que não, houve até contratações incompreensíveis como Pizzi, mas a partir do momento em que há jogadores que se tornam fundamentais numa equipa campeã nacional, o balanço é positivo. A capacidade de tomar boas decisões no mercado foi fundamental, sim.

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