sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Eusébio e Fehér lembrados no jogo com o Gil Vicente

Eusébio e Fehér lembrados no jogo com o Gil Vicente

O próximo sábado não será apenas dia de mais um encontro entre Benfica e Gil Vicente, ou de mais um jogo entre duas equipas para a Taça da Liga, ou até mesmo de mais um desafio dos encarnados em casa emprestada. 

Amanhã, no Estádio do Restelo, será, pois, um dia especial, mas em virtude da data, precisamente o dia em que Eusébio da Silva Ferreira completaria 72 anos e, também, o dia em que se assinalam dez anos sobre o desaparecimento do ponta de lança húngaro dos encarnados Miklós Fehér, que perdeu a vida em Guimarães, durante a partida entre as águias e a equipa vimaranense. 

O clube da Luz não irá, naturalmente, deixar passar o momento em claro e prepara mais uma homenagem, desta feita através de mensagens, que passarão em redor do relvado, na zona normalmente reservada à publicidade. 

Entretanto, o vice-presidente do Benfica, Rui Gomes da Silva, assumirá a responsabilidade de representar os encarnados numa cerimónia que irá recordar a memória do húngaro, organizada pelo Gyor ETO FC e pela Miklós Fehér Football Academy, que terá lugar na cidade de onde o jogador era natural (Gyor) e na qual estarão, igualmente, os pais do antigo futebolista do Benfica.



«Hoje em dia qualquer pessoa pode salvar vidas»

Nos últimos dez anos houve a tecnologia permitiu criar dispositivos que permitem a qualquer leigo evitar que alguém morra em campo de insuficiência cardíaca. No campo da prevenção, a genética dá as repostas mais interessantes

A morte de Miklos Feher em 2004 serviu para despertar consciências a nível nacional. Foi uma morte filmada e toda a gente ficou a perceber que se deveu a um problema cardíaco. Naquela noite de chuva em Guimarães não foi possível salvar o jogador do Benfica, apesar de o estádio D. Afonso Henriques estar equipado com desfibrilhadores, ter duas equipas médicas bem preparadas e o hospital local distar menos de um quilómetro. É difícil dizer se alguma coisa poderia ser feita naquele momento. «Talvez com os exames de prevenção que existem hoje pudesse ter sido encontrado o problema anteriormente, mas pelo menos pelas minhas mãos ele não passou», recorda o especialista Fonseca Esteves, que na altura dos factos era o diretor do Centro Nacional de Medicina Desportiva. O caso foi encerrado e nem uma vontade do Ministério Público em analisar nove situações concretas de morte súbita cardíaca desportiva serviu para tirar dúvidas. Os exames foram revistos, mas a Justiça impede a sua divulgação. É este o estado de coisas em Portugal dez anos depois da trágica morte de Feher e alguns meses depois de Alex Marques ter caído inanimado em campo durante um jogo do Tourizense. 
Mas algo mudou. Desde logo a legislação, que obriga à instalação de Desfibrilhadores Automáticos Externos (DAE) em todos os recintos desportivos com mais de cinco mil pessoas. São dispositivos pouco dispendiosos (entre 1500 a 2000 euros cada), que podem fazer toda a diferença na vida de uma pessoa. «Hoje em dia qualquer pessoa pode salvar vidas», considera o cardiologia João Freitas, responsável pela observação dos exames cardiológicos dos atletas do FC Porto. «O mais importante que aconteceu nos últimos dez anos é a utilização de desfibrilhador automático, que já é possível encontrar nos estádios e não obriga que seja um médico a utilizá-lo», acrescentou. 
O DAE é um dispositivo portátil que permite, através de elétrodos adesivos colocados no tórax de uma vítima em paragem cardiorrespiratória, analisar o ritmo cardíaco e recomendar ou não um choque elétrico. Este equipamento regista som, eletrocardiograma, fornece indicações aos reanimadores, analisa os dados e indica o choque ou não, segundo o algoritmo pré-definido. 

 

Nos Estados Unidos estes dispositivos estão instalados em todos os colégios e em Portugal está a ser feito um trabalho importante para a sua massificação. Muito recentemente, a 8 de agosto de 2012, o decreto-lei 184/2012 veio tornar obrigatória, até setembro de 2014, a instalação de equipamentos de DAE em determinados locais de acesso público, nomeadamente em estabelecimentos de comércio a retalho, isoladamente considerados ou inseridos em conjuntos comerciais, que tenham uma área de venda igual ou superior a 2000 m2; conjuntos comerciais que tenham uma área bruta locável igual ou superior a 8000 m2; Aeroportos e Portos Comerciais; Estações ferroviárias, de metro e de camionagem, com fluxo médio diário superior a 10 000 passageiros; Recintos desportivos, de lazer e de recreio, com lotação superior a 5000 pessoas. 
Segundo dados fornecidos ao Maisfutebol pelo INEM, existem neste momento 296 programas de DAE licenciados pelo INEM, aos quais correspondem 441 Espaços Públicos e/ou Viaturas, 635 Equipamentos de DAE e 7424 Operacionais de DAE. 
Estes dispositivos são muito importantes porque o tempo é vital para evitar a morte. Perante situações de paragem cardíaca por arritmia o único tratamento eficaz é o suporte básico de vida e o choque de desfribrilhação elétrica, cuja eficácia decresce em 10% por cada minuto que passa, pelo que deve ser aplicado nos primeiros seis minutos após a paragem. 

O que a genética pode trazer
Há uma nova esperança na prevenção de casos de morte súbita cardiaca. A utilização dos resultados da genética como meio auxiliar de diagnóstico clínico é já uma realidade em vários países desenvolvidos e é uma prática que se irá globalizar. Em Portugal surgiu no último ano HeartGenetics, uma «spin-off» do Instituto Superior Técnico responsável pelo desenvolvimento de uma metodologia que permite a optimização de plataformas que utilizam chips de DNA para o teste de um elevado número de alterações genéticas. 
Esta nova tecnologia permite detetar se uma pessoa está sujeita a um risco elevado de sofrer de Miocardiopatia Hipertrófica, a principal causadora de morte súbita nos atletas. «Todos deviam fazer este teste. Isto representa uma esperança para o atleta. Estamos a dar oportunidades de vida. O primeiro sintoma de morte súbita é a morte súbita, por isso, não há esperança», considera Ana Teresa Freitas, investigadora e CEO da empresa. 
Os atletas que faleceram, infelizmente desconheciam ter uma bomba relógio que não foi desativada. Este chip permite prevenir a morte súbita, permite proteger o atleta e garantir a sua vida, acrescenta, embora na opinião do cardiologista Nuno Cardim esta tecnologia ainda tenha de ser mais desenvolvida para ser claramente eficaz: 
Muitas destas doenças que causam morte súbita são quase todas cardíacas e hereditárias. Como os estudos genéticos estão na berra, criou-se a ideia de que se as doenças são genéticas, com uma análise clínica poderemos detetá-las nos atletas. Mas o estudo genético só serve para confirmar a doença. Como os pacotes de screening ainda não identificam todos os genes ainda não podemos avançar mais, mas o estudo genético é já muito importante.
O papel da genética no despiste de problemas cardíacos nos atletas vai ser, aliás, motivo de discussão no congresso «Leaping Forward», que vai ocorrer durante o dia 17 de fevereiro em Lisboa. Trata-se de uma abordagem importante para a cardiologia nesta altura e pode vir a salvar vidas no futuro.

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