quarta-feira, 19 de março de 2014

«O Benfica atravessa uma nova euforia atacante»

«O Benfica atravessa uma nova euforia atacante»

Nuno Gomes fala das expetativas do Benfica na Liga Europa antes do segundo jogo com o Tottenham e encontra muitas semelhanças entre a atual equipa com a que foi campeã em 2009/10. Uma conversa que passa ainda pela Fiorentina e pela forma como a equipa «viola» pode vir a ajudar a equipa da Luz e ainda das dificuldades que o FC Porto vai ter de enfrentar  esta quinta-feira no «ambiente escaldante» do San Paolo.

A sua última época foi em Inglaterra. Conhece bem a Premier League, ficou surpreendido pela forma como o Benfica venceu em White Hart Lane?
- Não me surpreendeu porque sei que o Benfica tem equipa para discutir jogos com qualquer outra equipa. Tem uma equipa muito forte e está a atravessar um grande momento. Era um jogo difícil, em casa do Tottenham que, apesar de ter alguns problemas em termos de resultados, não deixa de ser uma grande equipa inglesa. Jogar com o suporte do seu público é sempre um factor extra, até para intimidar o adversário, mas o Benfica deu uma grande resposta, correspondeu àquilo que é o verdadeiro valor da equipa. Apanhou-se a ganhar 1-0, depois soube gerir muito bem as coisas e aumentar a vantagem. Deu um grande passo para os quartos de final, apesar de ainda faltar um jogo e nada estar ainda ganho. Nunca se sabe o que se pode esperar de uma equipa inglesa. Os ingleses lutam até ao apito final do árbitro, é isso que espero esta quinta-feira, apesar das baixas que têm, vão com certeza com a intenção e com a esperança de dar a volta ao resultado.

Uma vitória com dois golos de Luisão que foi seu companheiro no Benfica. Esperava ver Luisão a este nível, nesta altura?
- Sim, o Luisão está a atravessar um dos seus melhores momentos de forma, estou feliz por ele, merece, é um excelente profissional, está no clube há muitos anos. Fico muito feliz pelo momento que está a atravessar. Está a juntar a qualidade que tem em ser um dos grandes esteios da defesa do Benfica com, neste momento, uma veia goleadora apuradíssima.

Jogou dois anos com Jorge Jesus no Benfica, foi campeão na primeira época com uma equipa que já era de tração à frente. Encontra muitas semelhanças com o Benfica atual?
- Sim. Lembro-me que nesse ano, apesar de só termos ganho o título na última jornada, em casa, com o Rio Ave (2-1) e tivemos a discutir com o Braga até ao fim, também tínhamos uma excelente equipa com o Javi Garcia, David Luiz, Ramires, Di María. Uma equipa que em muitos jogos cilindrou muitos adversários com um futebol bonito de se ver, com um futebol de ataque, que é sempre um apanágio do mister Jorge Jesus. Neste momento o Benfica atravessa uma dessas fases, uma euforia atacante que se alarga também para fora do estádio e cativa também os adeptos. Cria-se uma onda não só de golos, mas também uma onda de apoio em torno da equipa, o que é fantástico, mas que por vezes pode levar a excessos. Neste momento a grande diferença em relação à época passada é que, apesar dessas vitórias, os jogadores continuam a ter os pés bem assentes na terra, sabendo que nada está ainda ganho.

Acha que o que aconteceu na última época tornou o Benfica mais forte?
Acho que sim, aprende-se sempre com os erros e o Benfica não foge à regra. O campeonato perdeu-se quando já ninguém estava à espera. A Liga Europa perdeu-se, depois de um excelente jogo do Benfica, numa bola parada. Uma distração defensiva no último minuto quando já toda a gente estava à espera do prolongamento. São erros, são derrotas que servem para que a equipa cresça. Este ano a equipa tem sabido gerir não só o esforço dos jogadores, mas também a euforia que muitas vezes as vitórias proporcionam.

E esta quinta-feira? Espera um Benfica a gerir a vantagem que trouxe de Londres ou um Benfica a tentar resolver a eliminatória de início?
- Acho que o Benfica vai querer matar a eliminatória, apesar do Tottenham também querer tentar um golo cedo que lhe dê a esperança de poder dar a volta. O Benfica poderá tirar partido desse pendor atacante que o Tottenham terá que ter para virar o jogo. O Benfica vai poder por em prática aquilo que mais gosta de fazer, e com os jogadores que tem para o fazer, que é partir para o contra-ataque rápido, com jogadores com bola ou sem bola. O Benfica irá com certeza querer marcar o quanto antes para arrumar com a eliminatória.

São uns oitavos de final com outra equipa que também lhe diz muito. A Fiorentina empatou com a Juventus em Turim (1-1). Tem boas hipóteses de seguir para os quartos agora em Florença?
- Acho que sim, a Fiorentina tem uma ligeira vantagem, mas é um jogo em que é muito difícil prever quem irá passar porque são duas equipas rivais em Itália, com acontecimentos ao longo da história dos dois clubes que levaram a que os adeptos, quer de um lado, quer do outro, não gostem uns dos outros. Espero que a Fiorentina possa passar por tudo o que significa para os adeptos da Fiorentina poderem eliminar a Juventus. Será com certeza um dia de festa fantástico para eles. Sabendo que, se eliminarem a Juventus, serão uns dos candidatos à vitória na final que se realiza em Turim. Por isso até podem dar uma ajuda ao Benfica ao impedir que a Juventus jogue a final em casa.

É bom voltar a ver a Fiorentina nos grandes palcos depois dos momentos difíceis nos últimos anos?
- É bom voltar a ver a Fiorentina na Europa. Com a história que tem, está neste momento no lugar que merece. Está também a fazer um excelente campeonato este ano, está a lutar pelo acesso à Liga dos Campeões, portanto, depois dos tempos perturbados e difíceis que os adeptos passaram, é bom que estejam neste momento a ter muitas alegrias.

Já que estamos em Itália, o FC Porto vai defrontar o Nápoles no San Paolo que tem fama de ter um ambiente terrível para os visitantes. É mesmo assim?
- É- O FC Porto tem um osso duro de roer, apesar de ter a vantagem de 1-0 conseguida na primeira mão. Essa parte [do ambiente] vai ser quanto a mim a mais complicada do que propriamente o jogo em si porque o Nápoles nem está a jogar um futebol assim tão atrativo que se possa temer dentro do campo. A parte exterior ao jogo, o que os adeptos vão fazer na bancada, o próprio ambiente do estádio, muitas vezes pode intimidar os jogadores. Muitas vezes esses ambientes ganham jogos. É sempre difícil jogar em Nápoles, o ambiente é complicado e estão a tentar voltar a ter o Nápoles de antigamente. Têm uma excelente equipa, se formos ver individualmente a constituição do plantel. E tem esse grande ponto a favor que é jogar em casa com um ambiente escaldante. Mas acho que o FC Porto também tem equipa para marcar golos lá, por isso prevejo um jogo equilibrado e se calhar uma eliminatória com uma indefinição muito imprevisível até ao final do jogo.  

 Nuno Gomes: «Devo tudo o que sou ao futebol

Nuno Gomes: «Devo tudo o que sou ao futebol»
Nuno Gomes diz que agora sim, está preparado para terminar a carreira e iniciar uma nova atividade. Mas ainda não fecha totalmente a porta ao futebol. Para já diz que está «parado por opção» depois de ter recusado «dois ou três convites» para continuar a jogar.
 
Há uns meses disse que não era fácil para um jogador assumir o final da carreira. Ainda mantém esse estado de espírito?

- A não ser que seja um jogador que nos últimos anos de carreira tenha tido lesões atrás de lesões e a própria ausência dos relvados o comece a preparar para essa transição, acho que todos os jogadores não gostam de acabar a carreira porque é aquilo que fazemos toda a vida. Os melhores anos das nossas vidas são aqueles em que sonhamos em ser jogadores de futebol e, quando estamos no fim, não gostamos de acabar de fazer aquilo que gostamos mesmo de fazer. Foi por isso que disse que ninguém está preparado. Eu, pelo menos, sinto isso. Por muito que me prepare antes, acho que quando chega ao dia, sentimos que afinal a preparação não serviu para nada. É sempre aquele terminar daquilo que sempre fizemos na vida, do que sempre gostámos de fazer e do que sempre trabalhámos para isso. Neste momento estou mais do que preparado para terminar a carreira e mais do que preparado para iniciar outra atividade.

Um convite obrigava-o a repensar?
- Para jogar à bola? Não sei. Recusei duas ou três coisas porque não era aquilo que procurava para seguir a minha carreira. Não estou parado porque não tive oportunidades para continuar a jogar, estou parado porque foi essa a decisão que tomei e porque recusei dois ou três convites de duas ou três equipas. Estou parado por opção.

Tem noção que deixou uma imagem positiva no futebol? Que é uma figura consensual, toda a gente gosta de si? Sente isso no dia a dia?

- Sinto, felizmente sinto o carinho das pessoas e não só dos benfiquistas, também de outros clubes. Sinto esse carinho. Sou grato, como sou grato a todos os adeptos, sou grato ao futebol, acho que todos os jogadores devem ser gratos ao futebol porque o futebol é a minha vida, devo tudo aquilo que sou ao futebol e aos meus pais. Se acham que as pessoas têm uma boa imagem de mim, agradeço a Amarante e aos pais a educação que me deram

«Benfica não pode tirar o pé do acelerador»

 

Nuno Gomes: «Benfica não pode tirar o pé do acelerador»
Nuno Gomes fala de um Benfica mais forte do que o que escorregou na ponta final da temporada passada. Faz uma análise ao atual plantel de Jorge Jesus e da facilidade em que o treinador tem em «formatar» os jogadores para as posições que precisa. Fala também de um Boavista que faz falta ao futebol português.
O Benfica tem sete pontos de vantagem sobre o segundo classificado. Desta vez chega para ser campeão?
- Teoricamente deveria chegar, mas enquanto matematicamente não tiver alcançado os pontos suficientes para ser campeão, acho que o Benfica não pode tirar o pé do acelerador, até porque tem a experiência do ano passado. O Benfica tem de continuar a gerir e a jogar da mesma forma que o tem feito.

O que é que este Benfica tem de especial. Destaca algum jogador em particular?- O Benfica tem um plantel rico em todas as zonas, em todos os setores. Tem neste momento o Luisão e o Garay em grande forma. Normalmente a defesa é o melhor ataque. Neste momento o Luisão e o Garay ajudam não só a equipa a não sofrer golos, como também têm ajudado a marcá-los. O Matic saiu e não se nota a sua ausência. Tanto o Rúben Amorim como o Fejsa têm cumprido muito bem, com jogos feitos ao lado de Enzo, muitas vezes os três, acho que têm correspondido muito bem àquilo que lhes é pedido. Notam-se que estavam suficientemente preparados para quando fosse preciso utilizá-los eles darem uma resposta positiva. Depois tem jogadores na frente que desequilibram a qualquer momento. Têm o Lima, o Rodrigo e o Cardozo que têm feito golos. O Cardozo esteve algum tempo parado, juntamente com o Salvio. São, quanto a mim, dois jogadores que ainda não estão a cem por cento, mas que poderão vir a estar e são duas grandes armas para a reta final das provas. O Rodrigo e o Lima estão a concretizar. O Rodrigo, depois de algum tempo em que esteve no banco, começou a ser mais utilizado e a ganhar mais confiança e agora desatou a marcar golos a torto e a direito. E tem a magia do Gaitan que, para mim, é fundamental para o pendor ofensivo que o Benfica precisa.

Como é que vê essa capacidade de Jorge Jesus de formatar os jogadores para as posições que precisa? No seu tempo foi o Fábio Coentrão, depois da saída de Javi Garcia lançou Matic, depois saiu Matic e apareceu Fejsa. O mister Jorge Jesus gosta muito de trabalhar individualmente com os jogadores, quando está no próprio treino, mas fora dele também. Isso é fruto do trabalho da equipa técnica, do muito tempo gasto em fazer com que o jogador melhore na posição que é escolhida. Há que realçar esse factor. Quando algum jogador sai, nota-se que há sempre alguém preparado para poder render aquele que saiu.
Outra marca forte de Jorge Jesus são as persistentes indicações que dá aos jogadores durante o jogo. É um aspeto importante do jogo? Vocês ouviam o treinador?- São importantes. Muitas vezes há situações que passam despercebidas aos jogadores dentro de campo e quem está de fora vê muitas vezes coisas que lá dentro o jogador, no seu raio de visão, não consegue ver. É importante que haja alguém do lado de fora a dar essas indicações.

Já falámos do Benfica e da Fiorentina. E o Boavista? Espera voltar a ver o Boavista no principal escalão a breve prazo?- Era muito bom, não só para os boavisteiros e para o clube em si, mas também para o nosso futebol, para o nosso campeonato. O Boavista é um clube de primeira divisão, é um clube histórico do nosso futebol que, infelizmente, caiu nos últimos anos onde se calhar não deveria ter caído. Espero que se possa erguer o mais rápido possível porque tenho amigos lá, tenho pessoas que continuam a trabalhar no clube e que sentem o clube como mais ninguém. Foi onde me formei, portanto tenho um carinho especial pelo Boavista, espero que possa voltar à I Liga o mais rápido possível, porque o futebol português precisa.
A conversa prosseguiu depois da Liga para a Seleção nacional e para as expetativas da equipa de Paulo Bento para o Mundial do Brasil.
Este Cristiano Ronaldo permite à Seleção Nacional sonhar alto? - Felizmente temos o Cristiano em grande forma, espero que consiga chegar ao Brasil neste pique de forma porque é, sem dúvida, a nossa grande arma, a juntar a vários jogadores que também têm grande qualidade que fazem parte da nossa seleção. Temos um grupo mais ou menos equilibrado em que Portugal e Alemanha serão os favoritos a passar o grupo.

Como é que vê esta dificuldade em encontrar um ponta de lança? O Hugo Almeida está lesionado, o Postiga voltou agora a treinar e no último jogo Paulo Bento chamou Edinho.

- Temos o Hélder [Postiga], o Hugo Almeida, agora temos o Edinho que está a atravessar um bom momento, temos o Éder e o Nélson Oliveira. Já falei em cinco e, neste momento só jogamos com um.

Ainda dava jeito um Nuno Gomes?
- Não sei. Se calhar dava mais jeito um Pauleta ou mesmo um Eusébio, por exemplo.

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