Dos traumas à glória (cronologia da época)
Mês a mês, o resumo de um percurso em crescendo
Ao oitavo jogo oficial da época, o Benfica já somava o quarto resultado negativo. Por negativo, entenda-se, referimo-nos a tudo o que não sejam vitórias: derrota no Funchal e em Paris, empate em Alvalade e na receção ao Belenenses.
Ordem na mesa: saltámos diretamente para Cidade-Luz mas talvez nos tenhamos precipitado. Em boa verdade, esse nem foi o mais ingrato e duro dos momentos na época benfiquista.
Na tarde de 25 de agosto, Estádio da Luz cheio, a cabeça de Jorge Jesus esteve a minutos de rolar. A imagem é excessiva, mas não andará longe do rigor que se impõe.
Poucos já o recordarão. Aos 90 minutos da segunda jornada, o agora campeão somava zero pontos e afundava-se mais e mais no traumático final de época 2012/13.
O Gil Vicente marcara por Diogo Viana, a 20 minutos do fim, e preparava-se para voltar com três pontos a Barcelos. Se a isto adicionarmos a derrota justa do Benfica na primeira ronda, 2-1 em casa do Marítimo, percebe-se que o cenário dificilmente podia ser pior.
A beleza do futebol reside também nestas improbabilidades. No período de descontos, Lazar Markovic e Lima deram por completo a volta ao jogo, o Benfica venceu e a contestação a Jesus abrandou. Por um triz, o técnico resistiu.
Vamos à cronologia de uma época nascida torta e concluída de semblante dominador.
BENFICA: a cronologia da temporada 2013/14
AGOSTO de 2013: três jogos (1V, 1E, 1D)
O avançado não estava errado, como o tempo confirmou, e na semana seguinte salvou o Benfica contra o Gil Vicente. A vitória por 2-1 foi obtida no limite do suportável. 0-1 aos 90 minutos, dois golos no período de descontos. Que susto! Jesus desabafa no final: «Esta vitória moraliza mais do que uma goleada!»
No dérbi de Alvalade a equipa sobrevive. O empate a uma bola mostra melhorias, mas a equipa fica a cinco pontos do FC Porto na Liga. «Estou mais preocupado com a lesão de Salvio», comentaria Jesus em Alvalade.
SETEMBRO de 2013: 4 jogos (3V, 1E) À vitória segura por 3-1 sobre o Paços Ferreira, segue-se a estreia na Champions: 2-0 ao Anderlecht, melhor o resultado do que a exibição. Em Guimarães, o triunfo por 0-1, golo de Cardozo, passa para segundo plano. Jorge Jesus mete-se em trabalhos e é acusado de agressão a um polícia.
Como se isso não bastasse, o Benfica falha em casa contra o Belenenses. 1-1 e uma arbitragem polémica. Jesus dispara, queixa-se do árbitro e «das ajudas dos outros».
OUTUBRO de 2013: 5 jogos (3V, 1E, 1D) O Benfica cai com estrondo em Paris. Jesus admite a diferença de andamento: «Não tivemos capacidade».
A época prossegue e ninguém consegue perceber o que vale o Benfica. O mês acaba por se compor e só o empate na Champions, 1-1 contra o Olympiakos, estraga as contas. Matic e o guarda-redes Roberto, de má memória na Luz, dão nas vistas com erros graves. Jesus perdoa o sérvio. «Tem de assumir aquele risco».
No campeonato, a prova prioritária, a melhor notícia chega da Amoreira, onde o Benfica passa por 1-2. Depois da estreia em Cinfães para a Taça de Portugal, 0-1, o mês é encerrado com uma vitória por 2-0 contra o Nacional, golos de Siqueira e Cardozo. «Há jogadores já mais perto do nível normal», clama Jesus.
NOVEMBRO de 2013: 5 jogos (3V, 1E, 1D) Três pontos em Coimbra, embrulhados numa das melhores exibições feitas até então: 0-3, golos de Markovic, Cardozo e Marcelo Goiano na própria baliza. Por esses dias, Jesus já gosta mais do que vê: «Estamos a chegar perto do nosso melhor», defende no final dessa nona jornada.
A subida qualitativa é evidente e mantém uma nota artística elevada em Atenas. Ali, porém, o resultado não a acompanha e a derrota significa o comprometimento do projeto na Champions. Segue-se o dérbi, mais um, contra o Sporting na Taça. Tudo resolvido no prolongamento após um 3-3 aflitivo para cardíacos e não só. Nessa noite, Jesus aplaude a aposta em Lima.
Até ao final de novembro, mais dois jogos. Na exigente receção ao Sp. Braga, vitória por 1-0. Matic resolve tudo aos 72 minutos. Dias depois, um triunfo por 2-3 em Bruxelas, a deixar tudo em aberto na Champions.
Dez jornadas volvidas e as águias estão no segundo posto, um ponto atrás do FC Porto. Jesus cumpre um mês de suspensão, devido aos acontecimentos de Guimarães. O adjunto Raul José até diz que «o treinador não é necessário».
DEZEMBRO de 2013: 6 jogos (5V, 1E) . O empate na receção ao Arouca estraga um mês quase perfeito. O Benfica segue para as férias de Natal com 33 pontos, os mesmos de FC Porto e Sporting. A Liga promete, tal é o equilíbrio. Nessa igualdade surpreendente, Pedro Emanuel, técnico arouquense, deixa um recado para quem quer ouvir: «disseram que não podíamos vir discutir o jogo à Luz».
O Benfica abana, hesita, mas não cai. Nas semanas imediatamente posteriores vence, no Estádio do Algarve, o Olhanense e em Setúbal, já depois de travar na Luz o passeio do PSG, por 2-1.
Nas derradeiras declarações de 2013, Jorge Jesus já sublinha a qualidade do plantel e a capacidade de gerir a equipa sem quebras de rendimento: «jogue quem jogue, o Benfica tem sempre soluções».
JANEIRO de 2014: 5 jogos (5V)
O ano novo não podia começar melhor. Cinco compromissos oficiais e cinco vitórias, entre elas a mais saborosa e ansiada de todas: 2-0 sobre o FC Porto no Clássico da Luz. Rodrigo e Garay são os marcadores de serviço, os dragões ficam em definitivo para trás. Para Jesus, as águias são «muito superiores» aos dragões.
O Benfica faz, curiosamente, todos os jogos deste mês no Estádio da Luz. A fortaleza torna-se robusta e intimidante, tanto no campeonato como na Taça da Liga, as provas em questão. Na principal competição, o Marítimo perde por 2-0, bis de Rodrigo. O hispano-brasileiro começa a tornar-se um caso muito sério.
FEVEREIRO de 2014: 7 jogos (6V, 1E) . Só o empate no terreno do Gil Vicente, logo no dia 1, impede mais um mês imaculado para o Benfica. Nesse jogo, Óscar Cardozo falha uma grande penalidade no último minuto. Jorge Jesus desdramatiza a situação: «Jogadores têm autonomia para decidir».
A estrutura mental da equipa está forte e recomenda-se. A igualdade não atrapalha a convicção do Benfica. No reencontro com o Sporting, dez dias mais tarde, a superioridade é total. 2-0 para o Benfica, tango argentino com golos de Nico Gaitán e Enzo Pérez.
«É o melhor período do Benfica», vinca Jorge Jesus. Os resultados dão-lhe razão, mesmo na Liga Europa, onde o PAOK não se mostra um oponente à altura: 0-1 em Salónica e 3-0 na Luz.
MARÇO de 2014: 8 jogos (6V, 1E, 1D) O calendário aperta, a exigência aumenta e o Benfica confirma, a cada semana, ter muitas e boas soluções. Soluções que os adversários diretos, Sporting e FC Porto, lamentam não ter. É verdade que a equipa perde no Dragão para a Taça de Portugal (um lapso corrigido na segunda-mão) e apanha um susto valente contra o Tottenham na Liga Europa, mas no campeonato o guião é cumprido na íntegra.
As deslocações prometem problemas e o Benfica supera tudo na perfeição. Restelo, Choupana e Braga são ultrapassados com distinção. Em poucas jornadas o FC Porto fica a 15 pontos e o Sporting a sete. Jesus evita cometer o erro de anos anteriores e sustém o discurso de glória:«Em Espanha o Real Madrid passou para terceiro em duas rondas».
ABRIL de 2014: 5 jogos (5V) Irrepreensível. O Benfica não quebra, em oposição ao ocorrido em épocas anteriores. Na Liga Europa ultrapassa com assinalável naturalidade o AZ Alkmaar, na Taça de Portugal chega a ser heroico ao eliminar com dez jogadores o FC Porto, no campeonato Rio Ave e Arouca não são obstáculos suficientemente incómodos.
Até que chega a tarde desejada e o jogo do título.
Frente ao aflito Olhanense, os jogadores adiam até ao minuto 57 a explosão de alegria nas bancadas. Lima veste uma vez mais a pele de super herói e faz os dois golos do duelo. O Benfica é campeão nacional pela 33ª vez!
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