Nem de propósito: revolução ou mera
correção?
Há decisões de fundo a tomar nos três
grandes. A época será quase toda do Benfica, mas uma saída de Jesus coloca
problemas de sucessão. Alvalade deve insistir no cenário Marco Silva e no
Dragão a única certeza é mesmo o treinador
A época 13/14
está a ser quase toda do Benfica.
Se esta quarta o
conjunto da Luz bater, em Turim, o Sevilha, Jorge Jesus terá tirado todas as
dúvidas a quem torceu o nariz quando Luís Filipe Vieira avançou para a
renovação por duas épocas, dias depois daquele episódio com Cardozo, no Jamor,
após a derrota com o V. Guimarães.
A decisão mais
fácil, nesse ambiente de derrotas sucessivas nos momentos em que o triunfo
parecia estar perto, seria o abandono do técnico, que estava em final de
contrato.
Os dois grandes
vencedores da época, por isso, têm que se chamar Luís Filipe Vieira (por ter
insistido no que acreditava) e Jorge Jesus (por ter provado, ao longo de toda a
época, que o trabalho de evolução feito no Benfica só não deu mais frutos por
algum azar em momentos cruciais, na época passada, e por alguns erros que o
técnico, nesta temporada, soube evitar).
O que melhorou
no Benfica 13/14 em relação à época passada? Curiosamente, não muita coisa. Mas
o futebol decide-se mesmo nos detalhes e, neste caso, eles têm sido essenciais.
De um Benfica de
«correria», que nos primeiros anos de Jesus ansiava por golear e por dar
espetáculo, passou-se a um Benfica de «eficácia», focado mais no «resultado» e
um pouco menos na «nota artística».
E há outro ponto
que tem sido decisivo (veremos se será também na final de Turim, perante baixas
tão relevantes como Enzo, Salvio, Fejsa e, possivelmente, Markovic): mesmo
quando faltam elementos com grande influência, a equipa não se ressente no
fundamental e apresenta soluções para chegar ao resultado pretendido.
Isso é trabalho
bem feito e só se consegue com tempo e continuidade.
O modo como o
Benfica mostrou competência nas situações em que jogou em inferioridade
numérica (na Luz, com o FC Porto, para a Taça de Portugal; no Dragão, para a
Taça da Liga; em Turim, com a Juve, no acesso à final da Liga Europa) foi prova
do enorme coração que esta equipa conseguiu criar e alimentar.
Qualidade era
algo que já se identificava no Benfica de Jorge Jesus há muito tempo. Neste ano
cinco da era JJ na Luz, a noção de eficácia passou a juntar-se nos momentos
essenciais.
Enzo foi um
gigante em quase todas as fases da época e talvez mereça o prémio de melhor
jogador da Liga (ok, William Carvalho é também forte candidato, mas se tiver
que escolher só um entre os dois no global da época, escolheria Enzo); Markovic
começou a acusar alguma inexperiência mas rapidamente espalhou magia e é, aos
19 anos, um dos jovens talentos europeus mais promissores; Oblak foi aposta
ganha em fase decisiva da temporada e conferiu segurança extra à baliza do
Benfica.
A saída de Matic
para o Chelsea, a meio da época, podia ter sido problemática, perante a grande
influência que tinha no meio-campo. Mas nem isso abalou o Benfica, que foi
mostrando soluções, qualidade e resiliência.
E se o Benfica
ganhar mesmo tudo?
Este Benfica
está a duas vitórias de ganhar tudo: caso vença esta quarta o Sevilha e este
domingo o Rio Ave, soma quatro títulos: Liga, Taça da Liga, Liga Europa e Taça
de Portugal.
Mesmo com mais
um ano de contrato, a tentação de Jesus pode mesmo ser a de considerar que será
difícil repetir tal feito e abdicar do sexto ano na Luz, abraçando um novo
projeto.
O técnico tem
sido esquivo nessa questão, recordando que não pode «apagar as notícias», mas
também que uma eventual conquista da Liga Europa «pode melhorar» o seu futuro.
Independentemente
do resultado do duelo com o Sevilha, chegar a duas finais europeias
consecutivas confere ao Benfica de Jesus um estofo internacional que, manifestamente,
os encarnados não tinham quando o ainda técnico dos encarnados chegou à Luz.
Se o Benfica
ganhar mesmo tudo, o caminho mais normal para Jesus poderá ser o da saída. Mas
desta vez será claramente pela porta grande, sendo que, se tivesse sido há um
ano, o sentimento de frustração teria sido dominante.
Alvalade mais
talhada para Marco Silva do que a Luz
As razões são
bem diferentes, mas curiosamente este final de época está a ser marcado pela
indefinição na Luz, em Alvalade e no Dragão.
Se o cenário de
saída de Jorge Jesus começa a ganhar força, o provável sucessor está longe de
ser claro. Há quem deseje Marco Silva, mas o jovem técnico, de 36 anos, estará
neste momento mais próximo de Alvalade.
Uma ida de Marco
Silva para o Benfica, depois do trabalho extraordinário que fez como técnico do
Estoril, teria um risco idêntico ao que sofreu Paulo Fonseca no Dragão, depois
do «milagre de Paços na Champions», em 12/13.
Um Marco Silva a
entrar na Luz num Benfica que venceu tudo seria herança tremenda. Presente
envenenado a um treinador que tem tudo para fazer uma carreira brilhante.
Bem mais
adequado, para o próximo passo de Marco Silva, será mesmo suceder a Leonardo
Jardim em Alvalade. Interpretar, à sua maneira, o projeto de valorização dos
talentos de Alcochete. Ir colocando gelo aos ímpetos do presidente do clube,
que gosta de sonhar com o título, mesmo não oferendo os instrumentos para
entrar verdadeiramente nessa empreitada.
A incógnita
Lopetegui
No Dragão, a
ordem será, obviamente, para esquecer esta época falhada. Ou melhor: para
aprender com ela e não repetir.
Um ano mau entre
tantos anos bons é um dado que os adeptos portistas, exigentes e tão habituados
a ganhar quase sempre, têm que saber aceitar.
A questão não
está na época perdida. O ponto é mesmo perceber se esta foi apenas uma exceção
ou será terá sido o alarme definitivo para o fim de um ciclo.
É cedo para se
ter a certeza sobre a resposta ao dilema. A escolha de Lopetegui aponta para
vontade de rutura com erros do passado recente. Mas é risco muito elevado para
a necessidade de voltar a ganhar... já para o ano.
Mais do que
terem falhado os treinadores (Paulo Fonseca não aguentou a pressão, Luís Castro
herdou situação já praticamente irrecuperável), o que preocupa neste FC Porto
13/14 é a perda de referências: já tinha ido João Moutinho; fou Lucho; Helton
lesionou-se.
O FC Porto é o
único dos três grandes que já tem a certeza sobre quem será o seu treinador em
14/15. Mas essa será mesmo a única certeza que já tem neste momento.
Revolução ou
mera correção na casa portista? Os próximos meses vão ser interessantes, vão.
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