quarta-feira, 14 de maio de 2014

Nem de propósito: revolução ou mera correção?



Nem de propósito: revolução ou mera correção?

Há decisões de fundo a tomar nos três grandes. A época será quase toda do Benfica, mas uma saída de Jesus coloca problemas de sucessão. Alvalade deve insistir no cenário Marco Silva e no Dragão a única certeza é mesmo o treinador

A época 13/14 está a ser quase toda do Benfica.

Se esta quarta o conjunto da Luz bater, em Turim, o Sevilha, Jorge Jesus terá tirado todas as dúvidas a quem torceu o nariz quando Luís Filipe Vieira avançou para a renovação por duas épocas, dias depois daquele episódio com Cardozo, no Jamor, após a derrota com o V. Guimarães.

A decisão mais fácil, nesse ambiente de derrotas sucessivas nos momentos em que o triunfo parecia estar perto, seria o abandono do técnico, que estava em final de contrato.

Os dois grandes vencedores da época, por isso, têm que se chamar Luís Filipe Vieira (por ter insistido no que acreditava) e Jorge Jesus (por ter provado, ao longo de toda a época, que o trabalho de evolução feito no Benfica só não deu mais frutos por algum azar em momentos cruciais, na época passada, e por alguns erros que o técnico, nesta temporada, soube evitar).

O que melhorou no Benfica 13/14 em relação à época passada? Curiosamente, não muita coisa. Mas o futebol decide-se mesmo nos detalhes e, neste caso, eles têm sido essenciais.

De um Benfica de «correria», que nos primeiros anos de Jesus ansiava por golear e por dar espetáculo, passou-se a um Benfica de «eficácia», focado mais no «resultado» e um pouco menos na «nota artística».

E há outro ponto que tem sido decisivo (veremos se será também na final de Turim, perante baixas tão relevantes como Enzo, Salvio, Fejsa e, possivelmente, Markovic): mesmo quando faltam elementos com grande influência, a equipa não se ressente no fundamental e apresenta soluções para chegar ao resultado pretendido.

Isso é trabalho bem feito e só se consegue com tempo e continuidade.

O modo como o Benfica mostrou competência nas situações em que jogou em inferioridade numérica (na Luz, com o FC Porto, para a Taça de Portugal; no Dragão, para a Taça da Liga; em Turim, com a Juve, no acesso à final da Liga Europa) foi prova do enorme coração que esta equipa conseguiu criar e alimentar.

Qualidade era algo que já se identificava no Benfica de Jorge Jesus há muito tempo. Neste ano cinco da era JJ na Luz, a noção de eficácia passou a juntar-se nos momentos essenciais.

Enzo foi um gigante em quase todas as fases da época e talvez mereça o prémio de melhor jogador da Liga (ok, William Carvalho é também forte candidato, mas se tiver que escolher só um entre os dois no global da época, escolheria Enzo); Markovic começou a acusar alguma inexperiência mas rapidamente espalhou magia e é, aos 19 anos, um dos jovens talentos europeus mais promissores; Oblak foi aposta ganha em fase decisiva da temporada e conferiu segurança extra à baliza do Benfica.

A saída de Matic para o Chelsea, a meio da época, podia ter sido problemática, perante a grande influência que tinha no meio-campo. Mas nem isso abalou o Benfica, que foi mostrando soluções, qualidade e resiliência.

E se o Benfica ganhar mesmo tudo?

Este Benfica está a duas vitórias de ganhar tudo: caso vença esta quarta o Sevilha e este domingo o Rio Ave, soma quatro títulos: Liga, Taça da Liga, Liga Europa e Taça de Portugal.

Mesmo com mais um ano de contrato, a tentação de Jesus pode mesmo ser a de considerar que será difícil repetir tal feito e abdicar do sexto ano na Luz, abraçando um novo projeto.

O técnico tem sido esquivo nessa questão, recordando que não pode «apagar as notícias», mas também que uma eventual conquista da Liga Europa «pode melhorar» o seu futuro.

Independentemente do resultado do duelo com o Sevilha, chegar a duas finais europeias consecutivas confere ao Benfica de Jesus um estofo internacional que, manifestamente, os encarnados não tinham quando o ainda técnico dos encarnados chegou à Luz.

Se o Benfica ganhar mesmo tudo, o caminho mais normal para Jesus poderá ser o da saída. Mas desta vez será claramente pela porta grande, sendo que, se tivesse sido há um ano, o sentimento de frustração teria sido dominante.

Alvalade mais talhada para Marco Silva do que a Luz

As razões são bem diferentes, mas curiosamente este final de época está a ser marcado pela indefinição na Luz, em Alvalade e no Dragão.

Se o cenário de saída de Jorge Jesus começa a ganhar força, o provável sucessor está longe de ser claro. Há quem deseje Marco Silva, mas o jovem técnico, de 36 anos, estará neste momento mais próximo de Alvalade.

Uma ida de Marco Silva para o Benfica, depois do trabalho extraordinário que fez como técnico do Estoril, teria um risco idêntico ao que sofreu Paulo Fonseca no Dragão, depois do «milagre de Paços na Champions», em 12/13.

Um Marco Silva a entrar na Luz num Benfica que venceu tudo seria herança tremenda. Presente envenenado a um treinador que tem tudo para fazer uma carreira brilhante.

Bem mais adequado, para o próximo passo de Marco Silva, será mesmo suceder a Leonardo Jardim em Alvalade. Interpretar, à sua maneira, o projeto de valorização dos talentos de Alcochete. Ir colocando gelo aos ímpetos do presidente do clube, que gosta de sonhar com o título, mesmo não oferendo os instrumentos para entrar verdadeiramente nessa empreitada.

A incógnita Lopetegui

No Dragão, a ordem será, obviamente, para esquecer esta época falhada. Ou melhor: para aprender com ela e não repetir.

Um ano mau entre tantos anos bons é um dado que os adeptos portistas, exigentes e tão habituados a ganhar quase sempre, têm que saber aceitar.

A questão não está na época perdida. O ponto é mesmo perceber se esta foi apenas uma exceção ou será terá sido o alarme definitivo para o fim de um ciclo.

É cedo para se ter a certeza sobre a resposta ao dilema. A escolha de Lopetegui aponta para vontade de rutura com erros do passado recente. Mas é risco muito elevado para a necessidade de voltar a ganhar... já para o ano.

Mais do que terem falhado os treinadores (Paulo Fonseca não aguentou a pressão, Luís Castro herdou situação já praticamente irrecuperável), o que preocupa neste FC Porto 13/14 é a perda de referências: já tinha ido João Moutinho; fou Lucho; Helton lesionou-se.

O FC Porto é o único dos três grandes que já tem a certeza sobre quem será o seu treinador em 14/15. Mas essa será mesmo a única certeza que já tem neste momento.

Revolução ou mera correção na casa portista? Os próximos meses vão ser interessantes, vão.

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