quarta-feira, 14 de maio de 2014

Oblak vs Beto: quem os viu e quem os vê

Oblak vs Beto: quem os viu e quem os vê

Carlos Pires trabalhou com os dois guarda-redes da final. Memórias do início da carreira e até um veredicto: qual deles pode afinal ser mais decisivo?

 Por muito que Jorge Jesus tente convencer-nos do contrário, as finais não foram feitas para se desfrutar: foram feitas para se ganhar. Por isso, e salvo muito raras e honrosas exceções, tornam-se jogos sofridos, calculistas e prudentes.
Um daqueles jogos em que um golo pode fazer diferença: e como em todos os jogos em que um golo pode fazer a diferença, os guarda-redes tornam-se fundamentais nas finais.

O antigo adjunto de Leonardo Jardim orientou Beto quando o guarda-redes do Sevilha tinha 22 anos, no Desportivo de Chaves, e Oblak quando este chegou a Portugal com apenas 17 aninhos, no Beira Mar. De ambos guarda boas memórias.

«São dois guarda-redes que gostam muito de trabalhar, daqueles que vão para todos os treinos com vontade de se atirar ao chão, trabalhar, aprender cada vez mais e evoluir. Por isso foi muito fácil trabalhar com eles», começa por dizer.

«Mas eram diferentes. O Beto era mais extrovertido, mais velho, mais homem. O Oblak era muito calado, muito reservado.»

«São ambos muito rápidos a sair dos postes, têm boa leitura de jogo e são muito fortes tecnicamente, mas o Oblak é mais frio e concentrado, o Beto é mais enérgico, mais extrovertido, sempre a falar com os colegas.»

Hoje quando olha para a final da Liga Europa, Carlos Pires, que regressou à terra para voltar a trabalhar no Desp. Chaves, sente um certo orgulho.

Oblak ganhou confiança, Beto está mais tranquilo
Afinal de contas ajudou a formar os dois guarda-redes quando eles eram apenas miúdos: Oblak um pós adolescente que acabara de chegar a Portugal, no caso de Beto um jovem que saía pela primeira vez de Lisboa, e da casa da mãe.

«Evoluíram muito, claro. Hoje são dois guarda-redes do melhor que existe, na altura nem um nem outro eram titulares do Desp. Chaves e do Beira Mar.»

«O Oblak melhorou muito, por exemplo, na presença em campo, está mais seguro na abordagem aos lances, não hesita tanto com receio de falhar, está mais comunicativo e organiza melhor os companheiros.»

Carlos Pires acredita até que Oblak vai tornar-se um caso sério no futebol.

«Tem o futuro todo à frente dele. Se continuar a ter este rendimento vai chegar a uma equipa de topo internacional. A nível emocional é muito forte. Ele já está numa equipa de topo, mas pode sempre aparecer um Barcelona. Os próximos dois anos vão ser decisivos para ele poder dar o salto.»

E Beto?

«O Beto evoluiu muito no FC Porto, aquela estrutura trabalha muito bem e nota-se que mesmo sem jogar muito ele saiu de lá mais confiante, mais tranquilo. Hoje é um guarda-redes muito mais seguro e experiente.»

Qual dos dois pode afinal ser mais decisivo?
No entanto nem sempre foi assim. Carlos Pires recorda facilmente as brincadeiras com Oblak.

«Quando chegou tinha muitas dificuldades em falar português, sobretudo com algumas palavras mais complicadas. Então comecei a chamar-lhe passarinho: uma palavra que ele não conseguia repetir.»

A brincadeira ficou e pegou. «Os colegas riam-se e aquela alcunha pegou mesmo. Mas ele não se ficou: no fim da época já dizia passarinho corretamente.»

Com Beto as coisas foram diferentes.

«O Beto viveu em Chaves uma situação muito complicada. Tinha saído de Lisboa para jogar, não jogava, creio que só fez dois jogos a titular, e por isso viveu um ano difícil. Era mais sério, sempre a trabalhar, com ele não havia brincadeiras.»

Em vésperas da final, Carlos Pires olha para Beto, olha para Oblak e não tem dúvidas em dizer quem lhe parece que pode ser mais facilmente decisivo neste jogo que vale um título grande. A resposta sai até muito rápida.

«Mais decisivo? O Beto», atira. «Porquê? Vejo o Beto como mais provável para decidir uma final. E só por uma razão: nestes jogos ele transforma-se. Parece que fica outro. Então se o jogo for a penálties, ele motiva-se até ser decisivo.»

Como bom português e transmontano de corpo inteiro, Carlos Pires espera que o jogo não chegue à final. Que o Benfica ganhe logo aquilo.

Sem comentários:

Enviar um comentário