Sevilha-Benfica: o que separa os grandes dos maiores
Formação encarnada pode tocar o céu: mas para isso tem de ir ao fundo da alma
Quando Deus criou as taças, não as criou a todos iguais: umas são
maiores do que outras e as taças internacionais são muito grandes. Uma
Liga Europa, por exemplo, vale muito.
Ora por isso é impossível dizer que o Benfica vai só jogar uma
final. A frequência com que tem chegado às grandes decisões até pode
admiti-lo, mas estamos apenas a ser induzidos em erros. Uma final da
Liga Europa é um momento raro na carreira de um
jogador.
Por isso exige o melhor dos jogadores, o melhor de uma equipa, o melhor de uma alma.
Ganhar um campeonato e duas taças nacionais é uma coisa, ganhar um campeonato e uma taça europeia
é outra completamente diferente.
É disto que se trata: de compreender que há uma linha que separa os
grandes dos maiores, e essa linha é desenhada por uma conquista
internacional.
O Benfica repete por isso a final da Liga Europa num momento
particularmente bom: depois de duas conquistas nacionais, numa espiral
de vitórias que só pode anunciar coisas boas. O ano passado, por
exemplo, antes de entrar em campo com o Chelsea já tinha perdido no
Dragão.
Numa daquelas derrotas difíceis e que deixam marcas.
Este ano não, senhores: este ano são rosas. A equipa está confiante,
motivada, moralizada. É vista como favorita e tem por isso a obrigação
de se sentir confortável dentro do jogo.
Afinal de contas, e como
disse Jorge Jesus, não caiu nesta final por acaso.
Do outro lado surge um Sevilha que não o diz em voz alta, mas treme:
sabe que provavelmente vai encontrar pela frente o jogo mais difícil
desta competição. O discurso modesto, quase vazio, e aquela imagem de
início de treino dos
jogadores abraçados em torno do treinador Unai Emery, por exemplo, são o sinal claro de uma equipa que sabe que só com um grande espírito pode jogar.
Ora também por isso é bom que o Benfica esteja avisado: do outro
lado vai surgir um adversário capaz dos maiores sacrifícios. É a regra
dos mais pequenos: transcenderem-se para ganhar no fim.
Num estádio dividido a meio, mas com um ambiente que pode ser
desequilibrado pelos italianos mais hostis ao Benfica, a formação
encarnada pode ter a certeza que no fim é só ela, o bom futebol que já
mostrou ter e a alma de uma equipa vencedora que farão a diferença.
As conferências de imprensa foram marcadas por estados de espírito
opostos. Jorge Jesus, por exemplo, parece estar demasiado marcado pelas
derrotas da época passada: o treinador traz com ele permanentemente a
preocupação de passar a ideia que o ano anterior foi um sucesso.
«Amanhã a final que vamos fazer vai reforçar exatamente o que o
Benfica tem feito ano após ano. O reconhecimento do valor destes anos de
trabalho... esse reconhecimento está conquistado», disse.
«Não é por ganhar amanhã que vão olhar para nós de forma diferente. A única diferença que pode haver é que se ganhar amanhã
levo a taça para Lisboa.»
Unai Emery, por outro lado, coloca todo o ênfase no futuro.
«O favorito era a Juventus e a Juventus já cá não está, foi
eliminado pelo Benfica. Talvez o Benfica pense que é favorito, nós
respeitamos isso e vamos tentar mostrar dentro de campo que merecemos
ganhar.
Acho que ambos merecemos aqui estar», sublinhou.
«O Benfica melhorou desde o ano passado, parece ter um jogo mais
estável e talvez por isso se diga que está melhor enquanto equipa.
Respeitámos muito o Benfica e apreciámos o trabalho feito.»
Para este jogo, já se sabe, o Benfica não conta com os lesionados Sílvio
e Fejsa: foram aliás os únicos dois ausentes do treino de adaptação ao
Juventus Stadium. Mas há mais: Enzo Perez e Salvio também já se sabe que
não serão opção para Jorge Jesus.
Ora por isso resta apenas uma dúvida:
e Markovic?
O Benfica pediu a despenalização do sérvio depois da expulsão aqui em
Turim há quinze dias, a UEFA recusou, o Benfica insistiu com um recurso e
a UEFA vai pronunciar-se em definitivo quarta-feira. Até lá, Markovic é
dúvida.
Mas não é a única, claro. No
Sevilha
também o avançado Kevin Gameiro e o extremo esquerdo Vitolo estavam
lesionados. Esta terça-feira, nos trinta minutos abertos à imprensa,
treinaram sem aparentes limitações, mas Unai Emery ainda não deu a
certeza que estejam disponíveis.
Mas isso, lá está, são apenas dúvidas nas contas de um rosário em
forma de glória: importante, lá está, é a alma que as equipas
apresentarem dentro do relvado.
Lembra-te, Benfica: há uma linha que separa os grandes dos maiores.
EQUIPAS PROVÁVEIS:
Sevilha:
Outros convocados : Javi Varas, Rico, Fernando Navarro,
Diogo Figueiras, Marko Marin, Cristóforo, Cotán, Iborra, Trochowski, Cheryshev,
Jairo, Gameiro, Cicinho e Carlos Fernández.
Benfica:
Outros
convocados: Artur Moraes, Paulo Lopes, André Almeida, Jardel, Steven Vitória,
Djuricic, Cardozo, Ivan Caveleiro e Funes Mori.
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