quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Fundos: Michel Platini quer monitorizar os negócios

Advogado do Benfica fala em alternativa necessária

Os fundos de investimento apresentam-se como uma alternativa interessante e incontornável face à dificuldade de crédito junto da banca. Os clubes portugueses agradecem, enquanto a UEFA denota incómodo face à escassez de informações sobre a proveniência do dinheiro.

Em setembro de 2012, a European Professional Football Leagues (EPFL) publicou uma análise profunda sobre a posse de percentagens de passes por terceiros. Entre vários artigos de opinião, surge um assinado por Paulo Gonçalves, assessor jurídico da SAD do Benfica.

Esta voz transmite a perspetiva dos clubes portugueses, seguramente. «Em conclusão, acreditamos profundamente que os investimentos de terceiros deviam ser bem vindos e são necessários para a sobrevivência dos clubes», frisou o jurista.

«A FIFA mudou o seu regulamento em janeiro de 2008, incluíndo o artigo 18, que refere: 'nenhum clube deve enveredar por um contrato que permita a outra parte ou um terceiro partido influenciar o desemprego ou matérias relacionadas com transferências, a sua polícia ou o desempenho das equipas'», lembrou Paulo Gonçalves.

O assessor da SAD do Benfica considera que a FIFA não proíbe a aquisição, por parte de terceiros, de partes dos direitos económicos dos jogadores. Desde que o clube mantenha o controlo sobre o jogador em questão e o seu futuro.

«O detentor de direitos económicos do jogador não passa a ser dono do jogador, apenas terá parte dos resultados financeiros numa futura transferência (…) os fundos de investimentos permitem aos clubes contratar jogadores que, de outra forma, não poderiam garantir. Para além disso, protege o clube de jogadores com fraco desempenho, já que esses podem ser transferidos sem grandes movimentações de capital por parte do clube», escreve Paulo Gonçalves.

Os clubes ingleses fecharam a porta a este fenómeno na sequência da polémica transferência de Tevez para o West Ham. Franceses e polacos foram os únicos a seguir esse passo até ao momento. «Será interessante ver quantas associações nacionais irão tão longe como a Premier League para marginalizar esta nova fonte de financiamento», remata o jurista encarnado.

«É um dos temas do momento»

Daniel Geey, especialista em direito desportivo, também foi ouvido pela EPFL na matéria. Este advogado inglês tem analisado o tema e, em declarações ao Maisfutebol, deixa a sua opinião.

«Penso que os adeptos e os outros clubes querem saber se um presidente ou o dono de um clube detém parte dos direitos do seu clube ou do adversário, por exemplo», começa por dizer.

A FIFA e sobretudo a UEFA têm denotado preocupação face a esta realidade. «A falta de transparência pode afetar a integridade das competições. No mínimo, as autoridades do futebol devem saber quem detém os direitos dos jogadores que participam nas suas competições.»

«Este é um dos temas do momento e está a ser anunciado que, nos próximos anos, a UEFA pode banir das competições europeias jogadores cujos direitos económicos pertençam em parte a terceiros. É provável que algo aconteça, seja banir totalmente a prática ou apenas uma regulação mais profunda», remata Daniel Geey.

UEFA quer fechar a torneira

Em março de 2013, a par de várias manifestações públicas de Michel Platini, o secretário-geral da UEFA decidiu escrever abertamente sobre o tema e prometer medidas para um futuro próximo.

«Acreditamos que uma abordagem firme a esta matéria é necessária. Antes de mais, levanta questões étnicas e morais. É apropriado que terceiros detenham os diretos económicos de um ser humano e que os negoceiem como um bem? Jogadores devem ter o direito a determinar o seu futuro.»

Gianni Infantino, num artigo publicado no site oficial da UEFA, desenvolve a sua análise. «Por outro lado, devemos proteger a integridade das competições. O que acontece quando a mesma corporação ou fundo tem os direitos económicos de vários jogadores de diferentes equipas? Há um risco óbvio de conflito de interesses.»

«Em terceiro lugar, este modelo de negócio assenta na transferência frequente de jogadores. Por fim, esta prática não se adequa à filosofia do fair play financeiro. Os clubes não devem confiar em investimentos de terceiros para comprar jogadores que não poderiam suportar por si mesmos. Isto não é bom para os clubes nem os jogadores», conclui o responsável do organismo europeu.

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