João Querido Manha critica declarações de Pinto da Costa contra Paulo Bento
Há portugueses muito exigentes, capazes de catalogar sem piedade o trabalho de outros, sem se darem ao cuidado de analisar premissas nem condicionalismos. É uma desonestidade intelectual considerar ridículo gue Portugal fique fora do próximo Mundial, ainda mais incompreensível vinda de um presidente de clube com sérias responsabilidades na falência da formação durante a última década. Basta contar os jogadores formados pelo FC Porto que conseguiram chegar à Seleção principal nos últimos dez anos para encontrar um número realmente ridículo: Bruno Alves, Paulo Machado, Hélder Barbosa e, agora, Josué.
Há montes de razões para os resultados mais recentes da Seleção serem o que são, e temos obrigação de, juntamente com a Federação, baixar as expectativas para o ciclo atual que envolve riscos muito elevados de falhar a presença na fase final do Mundial do Brasil. Se os dois últimos mata-mata foram relativamente desafogados, o próximo encerra perigos muito grandes: adversários melhores e, sobretudo, uma Seleção portuguesa cada vez menos competitiva.
Habituados a grandes equipas e a gerações de ouro sucessivas, os adeptos portugueses entendem mal que, de repente, os níveis de exibição e os resultados da Seleção sejam inferiores e desatam a criticar a "atitude" dos jogadores. Parece que jogam mal, porque querem, ou porque são mal dirigidos, ou porque não estão para se maçar. É tão curioso que nunca se discuta abertamente a qualidade real dos jogadores à disposição de Paulo Bento como a capacidade de perdoar os erros sucessivos, não apenas de Rui Patrício, que descambaram no empate com Israel: tivesse sido erro do árbitro e, pelo contrário, a incapacidade para perdoar seria total.
Atentemos apenas num pormenor curricular que distingue os jogadores escolhidos pelo selecionador para esta partida decisiva: quatro (incluindo os estreantes André Almeida e Josué) disputam a Liga dos Campeões e outro pode vir a disputá-la, três estão na Liga Europa e os restantes seis, pura e simplesmente, estão fora das competições europeias. Arrisco-me a adiantar que nenhuma seleção apurada diretamente ou para o playoff apresenta, nesta altura, tão reduzida experiência internacional. Cristiano Ronaldo chamou-lhe falta de maturidade.
A maioria dos jogadores selecionáveis atua em clubes de segunda ou de terceira linha, e é tempo de se deixar de olhar para a Seleção pela dimensão de Cristiano Ronaldo. Sem ele, já não teríamos ido ao último Mundial.
- João Querido Manha, jornal Record, 14 de Outubro de 2013
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