segunda-feira, 14 de outubro de 2013

João Querido Manha critica declarações de Pinto da Costa contra Paulo Bento

João Querido Manha critica declarações de Pinto da Costa contra Paulo Bento

Há portugueses muito exigentes, capazes de catalogar sem piedade o trabalho de outros, sem se darem ao cuidado de analisar premissas nem condicionalismos. É uma desonestidade intelectual considerar ridículo gue Portugal fique fora do próximo Mundial, ainda mais incompreensível vinda de um presidente de clube com sérias responsabilidades na falência da formação durante a última década. Basta contar os jogadores formados pelo FC Porto que conseguiram chegar à Seleção principal nos últimos dez anos para encontrar um número realmente ridículo: Bruno Alves, Paulo Machado, Hélder Barbosa e, agora, Josué.

Há montes de razões para os resultados mais recentes da Seleção serem o que são, e temos obrigação de, juntamente com a Federação, baixar as expectativas para o ciclo atual que envolve riscos muito elevados de falhar a presença na fase final do Mundial do Brasil. Se os dois últimos mata-mata foram relativamente desafogados, o próximo encerra perigos muito grandes: adversários melhores e, sobretudo, uma Seleção portuguesa cada vez menos competitiva. 

Habituados a grandes equipas e a gerações de ouro sucessivas, os adeptos portugueses entendem mal que, de repente, os níveis de exibição e os resultados da Seleção sejam inferiores e desatam a criticar a "atitude" dos jogadores. Parece que jogam mal, porque querem, ou porque são mal dirigidos, ou porque não estão para se maçar. É tão curioso que nunca se discuta abertamente a qualidade real dos jogadores à disposição de Paulo Bento como a capacidade de perdoar os erros sucessivos, não apenas de Rui Patrício, que descambaram no empate com Israel: tivesse sido erro do árbitro e, pelo contrário, a incapacidade para perdoar seria total.

Atentemos apenas num pormenor curricular que distingue os jogadores escolhidos pelo selecionador para esta partida decisiva: quatro (incluindo os estreantes André Almeida e Josué) disputam a Liga dos Campeões e outro pode vir a disputá-la, três estão na Liga Europa e os restantes seis, pura e simplesmente, estão fora das competições europeias. Arrisco-me a adiantar que nenhuma seleção apurada diretamente ou para o playoff apresenta, nesta altura, tão reduzida experiência internacional. Cristiano Ronaldo chamou-lhe falta de maturidade. 

A maioria dos jogadores selecionáveis atua em clubes de segunda ou de terceira linha, e é tempo de se deixar de olhar para a Seleção pela dimensão de Cristiano Ronaldo. Sem ele, já não teríamos ido ao último Mundial. 

- João Querido Manha, jornal Record, 14 de Outubro de 2013

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