Duas imagens, o mesmo lugar
«Só Deus e eu sabemos o que ouvi o ano passado aqui».
A frase de Jorge Jesus, na conferência de imprensa da final da Taça de Portugal entre Benfica e Rio Ave, despertou-me a curiosidade. Lembrava-me das imagens televisivas do episódio entre Cardozo e Jesus. Mas não me recordava de nenhum registo fotográfico especial que traduzisse o estado de alma do treinador encarnado.
Mas ele existe.
A imagem de Jesus nessa tarde, à beira do colapso, contrasta de forma brutal com qualquer das imagens do treinador do Benfica, este domingo, depois de ter entrado na história. Quando as colocamos, lado a lado, elas sozinhas contam a história deste ano que passou.
Em maio de 2013, Jesus é um homem só. O Benfica tinha tudo e tudo perdeu em poucos dias. Daquela imagem partimos para longos dias de indecisão em que tudo parecia possível. A história é conhecida. Luís Filipe Vieira segurou o treinador e a maior parte dos jogadores. O sucesso chegou.
Na imagem da direita, maio de 2014, Jesus acena, provavelmente aos adeptos, num dos raros momentos em que não aparece com três dedos esticados ( confira nesta galeria). Feliz, personifica o sucesso que sem dúvida mereceu.
Há um ano subiu os degraus até à tribuna por entre adeptos do Benfica que lhe apontavam a porta da saída. Agora, pelo contrário, pedem-lhe que fique, continue a obra, ganhe outra vez. Se possível tudo e a Liga Europa.
No futebol, como o próprio Jesus também sintetizou de forma clara e direta, as coisas mudam muito depressa. Às vezes nem é necessário um ano. E às vezes, sim, o jogo é um quadro de Paula Rego. Mesmo.
Porque o futebol também encerra em si doses bastante elevadas de ironia, ninguém parece saber muito bem se Jesus está mais perto de continuar na Luz hoje do que estava há um ano. Mas isso, pelo menos enquanto não terminarem os justos festejos do melhor Benfica da era moderna (leia-se, depois da glória dos anos 60), não é o mais importante.
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