sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Opinião: os três de sempre, sim, mas tão diferentes

Opinião: os três de sempre, sim, mas tão diferentes


Benfica a minimizar perdas e sem saber se terá estofo para justificar o estatuto de campeão; Sporting a manter a base, mas com Slimani e Rojo a desestabilizar; FC Porto renovado e com mais soluções. Funcionará como equipa?

Que o futebol é uma «caixinha de surpresas» já todos tínhamos percebido. 

Mas era mesmo muito difícil imaginar, há pouco mais de três meses, quando o Benfica festejava o seu 33.º título nacional no culminar de uma época quase perfeita, que o arranque da Liga 14/15 viesse a ter dados tão diferentes para os três candidatos ao título. 

Assim para abrir, e ainda sem entrar nos detalhes, fará sentido dizer que teremos um Benfica com menos soluções e problemas cruciais a resolver com urgência; um Sporting com uma base idêntica à da época passada, mas interrogações sobre a qualidade de alguns reforços e as questões Slimani e Rojo por definir; e um FC Porto renovado e claramente mais forte, que optou pela rutura depois de época invulgarmente má. 

E uma aparente contradição a dominar o arranque dos três grandes: o único que manteve o treinador, o Benfica, foi o que mais perdeu nas soluções em relação à época passada (muito por culpa da crise do BES, mas não só). O Sporting parece pretender, com Marco Silva, uma continuidade do bom trabalho de Leonardo Jardim. O FC Porto mudou muito, mas, pelo menos à primeira vista, parece ter mudado para melhor. 

Benfica: minimizar perdas 

O Benfica parte com o estatuto de campeão, é certo. Mas os sinais de alarme da pré-temporada foram demasiado evidentes para que não se decrete, no mínimo, um estado de alerta na Luz. 

Perder Oblak, Garay, Siqueira, André Gomes, Markovic, Djuricic, Cardozo e Rodrigo (e também Ivan Cavaleiro, já agora), assim de uma assentada (e ainda podendo perder Enzo, Gaitan e talvez quem sabe… até Luisão), diz bem do «vendaval» que passou pela Luz nos últimos três meses. 

E não foram só as perdas: foram as opções difíceis de compreender ao abrir mão dos melhores produtos da formação e de dispensar quatro contratações (Djavan, Candeias, Luís Felipe, Victor Andrade); são as óbvias dificuldades em atacar alternativas no mercado; a noção de que, no saldo entre quem saiu e quem entrou, o plantel do Benfica ficou claramente enfraquecido. 

Nem tudo é mau, obviamente, neste Benfica 14/15: Jorge Jesus continua e isso deve ser encarado como um sinal de continuidade que pode ter os seus frutos. 

A exibição na Supertaça foi surpreendentemente positiva (boa intensidade e qualidade equiparada aos melhores momentos da época passada na primeira meia-hora), mas a verdade é que o Benfica precisou dos penalties para bater o Rio Ave e Jesus jogou pelo seguro, só colocando dois reforços no onze (Eliseu e Talisca). 

Depois de uma temporada 13/14 em que ganhou quase tudo, Jesus optou por continuar na Luz, apesar de ter tido boas alternativas. Não esperaria, talvez, começar a Liga 14/15 com tamanhas inquietações: continua ou não com Enzo Perez? E com Gaitan? E se um ou dois deles saírem haverá entradas que compensem minimamente essas perdas? 

Quanto aos reforços, Talisca é aposta de Jorge Jesus, tem qualidades interessantes, mas apenas 20 anos e no Bahia atuava em zonas mais ofensivas do que aquelas que o técnico do Benfica estará a pensar para ele. Pode ajudar, mas ainda não é garantia. 

Quase o mesmo se poderá dizer de Bebé. Boa época no ano passado no Paços. Menos jovem que Talisca, já com 23, mas uma noção de que terá, no Benfica, a primeira prova de fogo fora de Manchester, onde nunca teve oportunidade de singrar. Outra incógnita, portanto. 

Derley, segundo melhor marcador da Liga 13/14, ainda não deu mostras de ser solução clara para fazer dupla com Lima, no ataque. Eliseu tem 30 anos e veio com peso a mais (mas parece estar à frente de Loris Benito na corrida pelo lado esquerdo da defesa). 

César é enorme incógnita (para já, é Jardel que parece partir na frente para render Garay no onze), Karnezis é aposta interessante para a baliza, mas não é Oblak. 

Tudo somado, resulta claro um «downgrade» da qualidade do plantel do Benfica. Pode dar para lutar pelo título outra vez, mas será muito difícil que dê para muito mais do que isso. 

Sporting: base idêntica, o maior trunfo 

O Sporting tem na preservação da sua base de 13/14 o seu maior trunfo. Se William Carvalho não sair, então, será mesmo um caso de ficar com o essencial e retocar um ou outro pormenor. 

Entre os reforços, o japonês Tanaka mostrou, na pré-temporada, vontade e algumas condições de poder ser alternativa lá na frente. Mas, para já, Montero (ansioso por voltar aos golos) é a primeira escolha de Marco Silva. E há Slimani para resolver, claro (embora seja improvável, perante o agravar do caso interno, que o argelino volte a ser o ponta-de-lança de referência da equipa). 

Rosell, talvez na esperança de ver William sair, mostrou bons sinais na pré-temporada. 

O resto será a preservação do onze-base de Leonardo Jardim, com um toque de Marco Silva, que parece querer manter o registo do trabalho no Estoril: equipas arrumadas, misto de ambição e pragmatismo nos objetivos, discurso ponderado. O problema talvez seja a «pressão» de Bruno de Carvalho em pedir o título. 

Olhando para as armas dos leões, uma repetição do excelente segundo lugar da época passada já seria um bom ponto de partida. 

E falta saber como se resolverão os casos Rojo e Slimani. Risco de contágio a outros elementos do plantel? 

FC Porto: quase tudo novo 

Depois de época invulgarmente má em casa habituada a ganhar quase sempre, o FC Porto optou por mudança radical. Rutura. 

Treinador novo, desta vez estrangeiro, com espaço de manobra enorme para escolher reforços e alterar rotas estratégicas. Lopetegui tem bom trabalho feito nas seleções jovens de Espanha, mas esta é, sem dúvida, a maior prova para um técnico quase sem experiência de clubes.  

Excessivo peso dos «espanhóis»? É muito cedo para saber. E manda o bom senso referir, para já, que a qualidade do que o FC Porto foi buscar para 14/15 é, pelo menos nas credenciais e nos currículos, muito apreciável: Tello e Adrian Lopez eram jogadores com cartel no Barça e no At. Madrid; Casemiro será um dos jogadores brasileiros mais cotados da sua idade; Brahimi um argelino de talento indiscutível; Óliver Torres um jovem espanhol de provas dadas no mundial de sub-20. 

Reforços de peso, sem dúvida. A questão neste FC Porto 14/15 não estará na qualidade do plantel (que parece óbvia). Está em saber se Lopetegui já estará em condições de colocar as boas soluções que tem a funcionar como equipa. E a ganhar já. 

Já agora: com Jackson a manter-se no Dragão, como vão caber Adrian Lopez, Tello e Quaresma no mesmo onze? E Brahimi e Óliver Torres vão ser titulares com frequência? Herrera, depois de um belo Mundial, vai provar que foi mal aproveitado por Paulo Fonseca/Luís Castro? 

E ainda há José Angel, Opare, Marcano, Sami, Evandro e os guarda-redes Andres Fernandez e Ricardo (será que o ex-academista vai mesmo ter lugar no plantel?) para completar um leque muito completo de reforços. Com o miúdo Rúben Neves (17 anos!) a acrescentar, já agora.

O plantel do novo FC Porto promete. Mas... funcionará como equipa? 

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