segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O manual de guerra rejeita a arte do croché

O manual de guerra rejeita a arte do croché
Homens de barba rija não fazem croché. Selvagens de olhos vítreos desconhecem as regras do gamão. Futebolistas na Mata Real nada resolvem através da arte da diplomacia ou da falinha mansa.
Os três pontos do Benfica foram registados através da barbárie argentina num lance de bola parada e da carnificina numa invasão sérvia. Antes, quando o respeito pela organização pacense e a incapacidade de ser indelicado protelavam o advento do golo, as águias sofreram. Sofreram muito.
Findas as tréguas, mais impostas pelos bravos de Paços Ferreira do que sugeridas pelos artistas de Jesus, o Benfica foi tudo aquilo que um campeão deve ser: implacável com o adversário, agressivo e indisponível nas concessões.
Tudo aquilo que o palco de acerbo da Mata Real exige. Se é possível colocar as coisas nestes termos, um título nacional edifica-se com vitórias desta génese. Duras, desgastantes, saborosas.

FICHA DE JOGO DO PAÇOS-BENFICA

Até acertar com a dose certa, o Benfica somou erros e precipitações. Ao intervalo tinha três dos quatro defesas amarelados, dois deles (Garay e Siqueira) por protestos. A tal selvajaria espraiava-se na língua e surgia deficitária no futebol.
O aparente descontrolo sossegava, por outra, o Paços Ferreira. Os castores tinham o que desejavam. Encaixavam perfeitamente nas peças de ataque do Benfica, tinham superioridade numérica do meio-campo e assobiavam para o ar sempre que era possível jogar com o relógio e os nervos oponentes.
Durante essa fase de controlo pacense, de resto, somente faltou mais qualidade na hora de lançar Bebé e Del Valle. Romeu, Seri e Rodrigo António faziam tudo bem, exceção, lá está, à forma como disparavam os extremos.
Fernando Neto, solto entre os centrais, incomodou sempre e ganhou muitas faltas. Pouco, ainda assim, para quem desejava chegar ao golo.

OS DESTAQUES DO JOGO: Garay, a cabeça está cá

Com o grito de Garay no 0-1, após cruzamento de Rúben Amorim, o Benfica percebeu em definitivo que a noite era para comanches furiosos e não para xadrezistas contemplativos.
Até Markovic, uma absoluta nulidade durante grande parte do jogo, percebeu o mote. Quando o Paços se erguia da primeira investida, ainda cambaleante, o sérvio roubou uma bola no meio-campo contrário e cavalgou como se o Novo Mundo estivesse na área de Degra e o mapa do tesoure indicasse a sua baliza desprotegida.

O que parecia enredado numa querela de vontades irritantes ficou resolvido em duas avalanches. O Benfica foi sério, robusto e selvagem. Deixou de lado o croché e as pantufas, subiu ao cavalo e desenhou o corpo com pinturas de guerra.

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