O manual de guerra rejeita a arte do croché
Homens de barba rija não fazem croché. Selvagens de olhos
vítreos desconhecem as regras do gamão. Futebolistas na Mata Real nada resolvem
através da arte da diplomacia ou da falinha mansa.
Os três pontos do Benfica foram registados através da
barbárie argentina num lance de bola parada e da carnificina numa invasão
sérvia. Antes, quando o respeito pela organização pacense e a incapacidade de
ser indelicado protelavam o advento do golo, as águias sofreram. Sofreram
muito.
Findas as tréguas, mais impostas pelos bravos de Paços
Ferreira do que sugeridas pelos artistas de Jesus, o Benfica foi tudo aquilo
que um campeão deve ser: implacável com o adversário, agressivo e indisponível
nas concessões.
Tudo aquilo que o palco de acerbo da Mata Real exige. Se é
possível colocar as coisas nestes termos, um título nacional edifica-se com
vitórias desta génese. Duras, desgastantes, saborosas.
FICHA DE JOGO DO PAÇOS-BENFICA
Até acertar com a dose certa, o Benfica somou erros e
precipitações. Ao intervalo tinha três dos quatro defesas amarelados, dois
deles (Garay e Siqueira) por protestos. A tal selvajaria espraiava-se na língua
e surgia deficitária no futebol.
O aparente descontrolo sossegava, por outra, o Paços
Ferreira. Os castores tinham o que desejavam. Encaixavam perfeitamente nas
peças de ataque do Benfica, tinham superioridade numérica do meio-campo e
assobiavam para o ar sempre que era possível jogar com o relógio e os nervos
oponentes.
Durante essa fase de controlo pacense, de resto, somente
faltou mais qualidade na hora de lançar Bebé e Del Valle. Romeu, Seri e Rodrigo
António faziam tudo bem, exceção, lá está, à forma como disparavam os extremos.
Fernando Neto, solto entre os centrais, incomodou sempre e
ganhou muitas faltas. Pouco, ainda assim, para quem desejava chegar ao golo.
OS DESTAQUES DO JOGO: Garay, a cabeça está cá
Com o grito de Garay no 0-1, após cruzamento de Rúben
Amorim, o Benfica percebeu em definitivo que a noite era para comanches
furiosos e não para xadrezistas contemplativos.
Até Markovic, uma absoluta nulidade durante grande parte do
jogo, percebeu o mote. Quando o Paços se erguia da primeira investida, ainda
cambaleante, o sérvio roubou uma bola no meio-campo contrário e cavalgou como
se o Novo Mundo estivesse na área de Degra e o mapa do tesoure indicasse a sua
baliza desprotegida.
O que parecia enredado numa querela de vontades irritantes
ficou resolvido em duas avalanches. O Benfica foi sério, robusto e selvagem.
Deixou de lado o croché e as pantufas, subiu ao cavalo e desenhou o corpo com
pinturas de guerra.
Sem comentários:
Enviar um comentário