terça-feira, 29 de outubro de 2013

Rui Santos: Afinal, qual é a utilidade de Rui Costa no Benfica?


Rui Santos: Afinal, qual é a utilidade de Rui Costa no Benfica? 

Um extraordinário ex-jogador não consegue níveis de excelência similares como dirigente. Porquê? Por culpa própria ou por falta de autonomia? Ou por uma questao de "gestão de poderes", uma vez que entre Vieira e Jesus, duas personalidades com características muito próprias, não sobra espaço para mais ninguém? Ou será que o Benfica está a pagar agora a Rui Costa aquilo que Rui Costa prescindiu no seu regresso ao Benfica, independentemente da avaliação das competências enquanto director e administrador?...

Ter sido um grande jogador de futebol provoca um grande fascínio nos adeptos e aumenta a tolerância sobre quem, como é o caso de Rui Costa, desempenha agora funções directivas, exactamente no grande clube da Luz. Não há, contudo, muitos exemplos de excelentes jogadores que se tenham transformado em melhores técnicos ou dirigentes, em comparação com o desempenho enquanto atletas de alta competição.

Nem Di Stéfano, nem Garrincha, nem Puskas, nem Pelé, nem Bobby Charlton, nem George Best, nem Eusébio, nem Maradona nem Gullit, nem Van Basten nem Ronaldo nem Zidane atingiram noutras funções no futebol a preponderância e o reconhecimento público que alcançaram, enquanto eméritos executantes. Há os casos distintos de Platini (presidente da UEFA), Beckenbauer (presidente honorário do Bayern), Hoeness (presidente do Bayern), Rummenigge ("chairman" do comité executivo, também do Bayern), mas, sem embargo de reconhecer que todos atingiram posições de relevância enquanto dirigentes, nada se compara ao brilhantismo que alcançaram enquanto futebolistas: Há ainda o caso de Guardiola. Muito bom jogador (sem ter sido fora de série), que se transformou num treinador de "top", com uma carreira fantástica no Barcelona (aproveito para sublinhar o peso de ex-grandes jogadores, transversalmente, na estrutura actual do Bayern). Sem esquecer, obviamente talvez o caso de maior sucesso de um nome que foi um jogador de excelência, capaz de estender essa excelência ao cargo de treinador (campeão europeu ao serviço do Barça): Johan Cruijff!

Quando Rui Costa regressou ao Benfica ainda para jogar, em 2006, os encarnados recuperaram as recordações deixadas pelo Maestro, durante 3 épocas, no começo da década de 90. E cedo se começou a gerar a ideia que Rui Costa poderia ser, a prazo, presidenciável. Como se viu, nem todos os ex-grandes futebolistas dão excelentes presidentes ou mesmo directores. Uma coisa é certa: Rui Costa foi um executante de eleição, mas ainda não se percebeu o que vale enquanto dirigente. Porque, neste aspecto, a sua permanência na Luz vem sendo muito errática, com altos e baixos e aquilo que de mais seguro se pode dizer a este respeito é que Rui Costa, enquanto dirigente, continua a ser uma... promessa adiada.

Essa imagem de ex-jogador presidenciável talvez tenha provocado algum deslumbramento inicial no próprio Rui Costa, como director-desportivo (2008), mas talvez o tenha prejudicado na mesma medida, uma vez que os holofotes chegaram a estar centrados na sua figura, mais do que para o presidente, Luís Filipe Vieira. Por outro lado, quando Jorge Jesus entra na Luz e consegue de imediato o título de campeão nacional, que já fugia ao Benfica há 5 e... 16 anos, o protagonismo transferiu-se todo para Jorge Jesus, o que concorreu para que Luís Filipe Vieira recuperasse as rédeas do regime presidencialista. Rui Costa iniciou então um período de ocaso e reclusão, de acordo com a conjuntura e só volta a ser falado como alguém com alguma preponderância na estrutura depois de Jorge Jesus (e Vieira) terem falhado, por muito pouco, a reconquista do título nacional. Coisas de conjuntura, um tanto ou quanto caprichosas. Ficámos a saber por LFV, numa entrevista televisiva, a influência de Rui Costa na preparação desta época, designadamente na contratação dos jogadores sérvios. O que significa que LFV quis tornar clara a responsabilidade efectiva de Rui Costa naquilo que já aconteceu e vai acontecer nesta época de 2013/14...

O Benfica está a pagar agora a Rui Costa aquilo que Rui Costa prescindiu no seu regresso à Luz? Não será talvez um acerto de contas contratual, mas é o reconhecimento (do lado dos encarnados) de uma decisão, em tempos, aparentemente sentimental. A pergunta faz todo o sentido porque nunca Rui Costa revelou desconforto em ser uma espécie de "rainha de Inglaterra" no Benfica.

Parece óbvio, no entanto, que o Benfica ainda não encontrou a melhor forma de compatibilizar, sem hipocrisias, as pedras angulares do seu futebol. E já houve tempo e oportunidade(s) para isso...

Sem comentários:

Enviar um comentário