terça-feira, 29 de outubro de 2013

Vítor Serpa: Mudar ou não mudar Jorge Jesus

Vítor Serpa: Mudar ou não mudar Jorge Jesus

Que razões poderão levar um treinador que se mantém no mesmo clube por quatro anos e sem demasiadas alterações de jogadores a não conseguir atingir os mesmos níveis de qualidade exibicional da equipa, nem os mesmos níveis de resultados?

Esta é a pergunta essencial que o presidente do Benfica deverá fazer todas as manhãs, quando acorda atormentado pelo que vê e pelo que ouve. Mas é uma pergunta que precisa de resposta urgente. 

O Benfica vive tempos de uma inquieta resignação perante a evidência de um futebol sem brilho e sem entusiasmo praticado por uma equipa desconchavada, mas onde se reconhece a existência de jogadores de qualidade e que, de repente, como se fossem atingidos por um raio negro, deixaram de saber jogar o futebol com que, antes, encantavam milhões.
Não é fácil, principalmente a quem está de fora, poder falar das causas da doença e, muito menos, receitar o remédio para a cura. Provavelmente, nem sequer é fácil a quem está por dentro e vive o dia a dia da equipa na relação direta com o seu treinador.

Arrisquemos alguma coisa: a primeira ideia aponta para um problema de caráter psicológico. Do treinador e dos jogadores. Para sermos mais precisos, um problema mental (falta de confiança, diminuição de níveis de autoestima, cansaço psicológico) dos jogadores, causado por um problema mental do treinador (insegurança, indignação, intranquilidade e solidão).

Num clube em cuja estrutura envolvente do futebol profissional se diminui à custa da forte personalidade do treinador, o caso torna-se, evidentemente, mais sério.

Jorge Jesus precisa de urgente apoio e é verdade que Luís Filipe Vieira o tem dado publicamente, aparecendo, aqui e ali, a manifestar confiança no técnico e no homem. Como se tem visto, não chega e já não adianta a manifestação diária de confiança da parte do presidente. Não adianta e nem sequer se recomenda, pela ineficácia a que estará votada e pelo desgaste que, a ambos, provoca.

Jorge Jesus viverá, atualmente, uma fase de negação e de indignação. Sente-se sozinho contra o mundo e isso bloqueia-o mentalmente e inibe-o de encontrar as melhores soluções e a paz de espírito absolutamente necessária para poder ter a lucidez e a clarividência para chegar à solução.

A questão da substituição do treinador deve, assim, ser apenas questionada pelo Benfica e, de forma muito particular, pelo seu presidente, no momento em que chegar à conclusão de que, face às circunstâncias e à natureza da estrutura (ou da sua falta) não há condições para resolver o problema mental do futebol profissional do Benfica num quadro interno.

Julgo que a maneira triste e abatida como os jogadores encaram os jogos, diminuindo-lhes a capacidade competitiva e podendo, até, dar uma imagem falsa de ausência de condição física, se fica a dever, em percentagem elevada, à súbita ausência de capacidade de liderança do seu treinador. Não me interpretem mal. Não quero dizer com isto que Jesus tenha perdido, de repente, a autoridade junto dos seus jogadores. O que quero dizer é que nem sempre a autoridade é sinónimo de liderança. 

Um líder só é líder quando influencia os homens e as mulheres com quem trabalha, quando os torna melhores, quando os convence de que aponta o caminho certo. Um líder só é líder quando gera, naturalmente, uma relação de confiança e de reconhecimento pelo seu saber, pelo seu exemplo, pela sua intrínseca respeitabilidade.

Pode parecer impossível que essas qualidades possam mudar de um momento para o outro, mas a verdade é que, mesmo quando não mudam, podem alterar-se. De forma definitiva ou provisória. Foi Ortega Y Gasset quem nos disse sabiamente que o homem é sempre ele e as suas circunstâncias. São, afinal, essas circunstâncias que podem alterar, mais do que a sua personalidade, as suas qualidades, as suas competências.

Vieira não tem pela frente uma decisão fácil, mas é uma questão que se resume a uma única pergunta, embora decisiva: Pode o futebol do Benfica ainda ter solução num quadro de soluções internas? Será sempre dele - e de mais ninguém - a resposta.

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