quarta-feira, 9 de abril de 2014

Béla Guttmann levou o ouro e Jorge Jesus luta pela prata

Béla Guttmann levou o ouro e Jorge Jesus luta pela prata

Português pode chegar à terceira meia-final europeia; húngaro fez o mesmo na Taça dos Campeões Europeus e garantiu dois troféus.

Jorge Jesus pode garantir um lugar na história internacional do Benfica. Nesta quinta-feira, o treinador procura chegar à terceira meia-final nas competições europeias. Se assim for, supera os registos de Sven-Goran Eriksson e Toni no clube encarnado. Béla Guttmann está em outro patamar. 
O húngaro levou o Benfica a três meias-finais europeias mas sempre na Taça dos Campeões. Para além disso, concluiu o percurso com dois troféus, na fase mais gloriosa das águias. Não faria sentido qualquer tentativa de colagem entre Jesus e Guttmann. 
Natural de Budapeste, o malogrado terá garantido algo como a medalha de ouro no percurso europeu do clube da Luz. Frente ao AZ Alkmaar, Jorge Jesus está numa posição favorável para resgatar a prata. 
A cumprir a quinta temporada como treinador do Benfica, o português gere a vantagem conquistada na Holanda (0-1) para entrar no último patamar antes da final da Liga Europa. 
A Liga Europa depois da Liga dos Campeões 
Jesus tem argumentos para considerar que o percurso internacional da sua equipa é extremamente satisfatório, embora as duas meias-finais europeias anteriores tenham surgido após afastamentos da Liga dos Campeões na fase de grupos. Uma vez mais, é esse o cenário que se coloca. 
Na época 2010/11, o Benfica ficou atrás de Schalke04 e Ol. Lyon no Grupo B da Champions. Seguiu para a Liga Europa, eliminando clubes como Estugarda, Paris Saint-Germain e PSV Eindhoven. Porém, os encarnados caíram na meia-final perante o Sp. Braga. Os arsenalistas sucumbiram perante o FC Porto no jogo decisivo da prova. 
Jorge Jesus regressou à Liga Europa na temporada passada. Ficando atrás de Barcelona e Celtic na Liga dos Campeões, as águias voaram para a outra prova da UEFA e foram até Amesterdão. Bayer Leverkusen, Bordéus e Newcastle pelo caminho, tal como o Fenerbahçe, adversário na segunda meia-final do técnico encarnado. 
Maio de 2013 terá sido o pior mês da carreira do treinador, provando como é fina a linha entre o sucesso e o fracasso. O Benfica perdeu o Campeonato, a Taça de Portugal e, pelo meio, a Liga Europa para o Chelsea. Uma bela exibição na Holanda não bastou. Chegar lá soube a muito ou a pouco? 
O treinador não alinha na lógica desta frase: «As finais não se jogam, ganham-se». «É mentira! As finais são para disputar entre as duas equipas». No fundo, Jorge Jesus considera que a chegada a esses momentos de decisão tem de ser valorizada. Faz todo o sentido. 
No total, ao longo dos últimos quatro anos, o Benfica chegou por duas vezes aos quartos-de-final de uma prova europeia (Liga Europa em 2009/10 e Liga dos Campeões em 2011/12), uma às meias-finais da Liga Europa e outra ao jogo decisivo da prova. 
Meias-finais: Eriksson, Toni…e José Mourinho igualados 
Jorge Jesus já igualou os registos de Sven-Goran Eriksson, Toni e José Mourinho. Estes quatro treinadores foram os únicos a levar equipas portuguesas a duas meias-finais de competições europeias. 
Em 1983, Eriksson conduziu o Benfica até à final da Taça UEFA, perdendo a derradeira batalha frente ao Anderlecht. Sete anos mais tarde, após passagens por AS Roma e Fiorentina, o sueco regressou a Portugal e levou os encarnados a mais um jogo decisivo, desta vez na Taça dos Campeões Europeus. Frank Rijkaard entregou o troféu ao AC Milan. 
Sven-Goran Eriksson esteve por cinco anos à frente das águias, em dois períodos, e chegou a duas finais. Toni, seu adjunto em ambas as passagens pelo Estádio da Luz, também garantiu um lugar na história do clube. Em 1988, depois de ter substituído o dinamarquês Ebbe Skovdahl, levou a equipa à final da Taça dos Campeões Europeus, perdendo nas grandes penalidades com o PSV Eindhoven. 
O atual treinador do Tractor (Irão) voltou a assumir o comando em 1992/93 e, na época seguinte, chegou às meias-finais da Taça das Taças. Uma vitória caseira frente ao Parma por 2-1 não chegou para anular o resultado de Itália: 1-0. O golo dos italianos na Luz fez a diferença. 
Toni foi treinador principal do Benfica em cinco temporadas – apenas duas épocas completas – e tem no seu currículo uma final da Taça dos Campeões Europeus e uma meia-final da Taça das Taças.
José Mourinho é o outro português no leque de técnicos com duas meias-finais à frente de equipas do nosso país. Em 2003, passou por essa etapa com o FC Porto para vencer a Taça UEFA e no ano seguinte fez o mesmo na Liga dos Campeões. Dois títulos em igual número de épocas no banco portista. 
Curiosamente, a sua estreia internacional tinha sido no Estádio da Luz, na curta passagem pelo Benfica. Apenas um jogo e o afastamento frente ao Halmstads da Suécia, com um empate em solo luso (2-2) após o desaire fora de portas (2-1). No total, foram três campanhas europeias – se contabilizarmos o efémero compromisso pelos encarnados – e dois troféus. 
Com a estátua na Luz acabou a maldição e a deturpação? 
Jorge Jesus está neste lote e procura elevar a fasquia com a terceira meia-final. Um apuramento do Benfica frente ao AZ Alkmaar garante um registo interessante para o atual treinador encarnado, sobrando espaço para a ambição de maiores conquistas. 
O campeonato nacional é o principal objetivo e Jesus já disse uma e outra vez que não haverá aposta total na Europa sem que a Liga esteja assegurado. Para além disso, há duas taças em disputa. 
De qualquer forma, o plantel tem dado uma resposta positiva nas frentes mais importantes e a vantagem garantida na Holanda (0-1) abre boas perspetivas para o jogo desta quinta-feira. 
A final de Turim está mais perto e o treinador guardará um desejo secreto: vingar a derrota da época passada frente ao Chelsea e afastar de vez os rumores deturpados da maldição lançada por Béla Guttmann. 
Em fevereiro, o Benfica inaugurou uma estátua do treinador húngaro no Estádio da Luz. À margem da cerimónia, os compatriotas de Guttmann voltaram a falar da famosa expressão: «Como esta estátua, já não será preciso esperar mais cinquenta anos para o Benfica ganhar uma taça europeia.» 
A estátua é uma justa homenagem a Béla Guttmann mas a história da maldição já foi esclarecida e nada tem a ver com a Liga Europa. «Nem daqui a 100 anos uma equipa portuguesa será bicampeã europeia e o Benfica jamais ganhará uma Taça dos Campeões», disse o húngaro quando saiu do clube. Não interfere com o futuro imediato de Jorge Jesus.

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