sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

André Gomes e Tozé: na prateleira à espera de uma oportunidade

Na antecâmara do clássico entre Benfica e FC Porto, o zerozero.pt escolheu um talento emergente em cada um dos clubes e foi ouvir a opinião de quem privou de perto com os atletas referidos.

A sua utilização no jogo do próximo domingo afigura-se bastante improvável mas, para a generalidade dos adeptos, são dois nomes que colhem agrado e interesse, por poderem vir a ser lançados por Jorge Jesus e Paulo Fonseca de forma mais contínua, num espelho da aposta que pretende ser feita na 'prata da casa'.

De um lado, um atleta que «pode chegar ao nível do que fez o Rui Costa», segundo quem o treinou no Boavista. Do outro lado, «um aluno excecional, com qualidades incríveis», tal como avaliou um antigo colega nas camadas jovens dos dragões.

André Gomes, um tipo de jogador raro
Enquanto não surge a oportunidade, André Gomes vai brilhando na equipa B ©Pedro Benavente
 
Gouveia foi treinador dos juniores e dos seniores do Boavista na temporada 2010/2011, altura em que André Gomes era junior de primeiro ano, mas no qual o técnico não hesitou em chamá-lo para a primeira equipa. As suas características são, para Filipe Gouveia, raras em Portugal e podem fazê-lo saltar para a elite europeia futuramente.

«É um box-to-box, um jogador que chuta com os dois pés e que a sua grande lacuna é, a meu ver, o seu jogo de cabeça. Acredito que, no futuro, vai ser um jogador de primeira linha, de top mundial, não tenho a mínima dúvida sobre isso», analisou, em entrevista ao zerozero.pt.

Na época passada, André Gomes foi chamado em algumas ocasiões por Jorge Jesus, num trajeto ascendente e que teve golos pelo meio. Contudo, o médio tem tido menos preponderância esta temporada, um dado que Gouveia preferiu desvalorizar, ciente da qualidade do seu ex-pupilo.

«É um jogador muito maduro e muito forte nas diagonais que faz. Acredito que este momento menos bom dele faz parte do crescimento. Talvez o Jorge Jesus ache que é melhor para ele jogar, para já, na equipa B para ganhar mais ritmo competitivo», considerou, antes de abordar uma improvável chamada a jogo no clássico de domingo.


«Já ficou provado no ano passado, quando ele jogou contra grandes equipas como o Barcelona, que é um jogador que não acusa a pressão do jogo. Se Jorge Jesus entender, é um jogador que poderá ser lançado. Não sei qual a estratégia que Jorge Jesus está a preparar para o jogo, mas, conhecendo o André Gomes como conheço, é jogador para assumir a responsabilidade num jogo destes», garantiu.

E na eventualidade de André Gomes passar, no futuro por um empréstimo para ganhar ritmo competitivo no principal escalão? Gouveia mostrou não ver problemas nisso, embora tenha negado acreditar em tal cenário, confiando em pleno no número 30 encarnado.

«Se as pessoas do Benfica assim o entenderem, penso que ele responderá bem, mas sinceramente não acho que isso vá acontecer. Acredito que ele só sairá do Benfica no momento em que for vendido para outro patamar, pois trata-se de um tipo de atleta que em Portugal não há muitos. Mesmo na seleção portuguesa faz falta um jogador como o André Gomes. É um jogador que pode ir ainda mais longe que um Benfica, pode chegar ao nível do que fez o Rui Costa», finalizou.


 Tozé, um Moutinho que é 10

Tem sido uma das figuras da Liga2 Cabovisão. Ainda que se trate de um médio, Tozé leva já 11 golos e, na tabela geral, só Pires tem mais do que o número 70 dos azuis e brancos, um jogador que se poderá assemelhar a João Moutinho.

«Sinceramente não vejo um jogador que tenha as características exactamente iguais às do Tozé, mas talvez o Moutinho, por ser de baixa estatura, mas ser muito trabalhador, vai ao chão, luta, é bom nas bolas paradas, inteligente. Porém, o Tozé é mais ofensivo, mais um 10, com maior capacidade de finalização, remate forte e preciso, é bom último passe», contou Fábio Martins, antigo colega do médio, ao zerozero.pt.

O atual jogador do Desportivo das Aves acredita que «o Tozé pode singrar no FC Porto», pois «é muito completo, tem a cabeça no lugar, é um aluno excepcional e, como toda a gente vê, tem qualidades incríveis», resalvando, porém, que «já se sabe que no FC Porto é muito dificil um jogador 'da casa' se afirmar, e um jogador com esta idade requer uma aposta firme». Uma afirmação que suscitou nova pergunta, do porquê de Fábio Martins considerar que o clube que o formou não aposta de forma vincada na formação.

«São várias as razões. O FC Porto é um clube onde não há espaço para apostar nos jovens porque o mais importante é ganhar titulos, portanto procuram-se jogadores com experiência a um nível alto, nem que seja só nos seus países de origem. Não existe tempo nem paciência para apostar nos jovens, e o Tozé, no ano passado, chegou a sofrer isso na pele, pois foi chamado contra o Olhanense. Entrou, arriscou, como faz sempre, e o público assobiou, porque o importante era ganhar, não era o miúdo que lá estava dentro de campo a estrear-se», considerou.


 E continuou: «Outra razão é o aspecto monetário, pois o FC Porto é conhecido mundialmente por ser um clube vendedor e faz isso bem. É um clube que contrata barato, e vende caro, mas principalmente jogadores estrangeiros. Contrata jovens estrangeiros e nesses sim, existe uma aposta firme, para darem depois o retorno. Isso está à vista de todos, mas é uma política que tem resultado, tem dado vários títulos, e por isso não há nada a dizer».

Porém, a acontecer a aposta firme num atleta da formação, Fábio Martins coloca o médio de 20 anos na «pole position», mesmo que considere que existam outros valores prontos a emergir no Olival.

«Em todos os escalões de formação dos clubes grandes existem alguns jogadores que se destacam e que todos pensam que podem chegar à etapa final, a equipa A. Penso que Tozé seja o caso mais flagrante e que mereça uma atenção especial, até porque está bem, é um dos melhores marcadores da Liga2 Cabovisão e claramente um dos motores da equipa. Mas existem outros que podem chegar a esse nível, depende do trabalho deles e da aposta que o clube faça neles. Tiago Ferreira, Ivo, Tomás, André Silva, Rafa, o Gonçalo que, pelo que sei, está a voltar, são jogadores que têm qualidade, que também estão na equipa B e que estão a crescer», analisou.



Jovem, mas muito ciente do mundo que o rodeia, Fábio Martins 'brilhou' também com o dom das palavras nesta entrevista ao zerozero.pt, considerando que a sua geração já vai sendo vista com outros olhos, numa aposta crescente nos jovens atualmente.

«Existem outros jogadores das nossas idades ou até mais novos que já começam a ser apostas dos clubes, como o Vezo, que foi agora para o Valencia, o Ricardo, que veio este ano para o FC Porto, o Ilori, que saiu este ano para o Liverpool, o André Gomes, o Rafa no SC Braga, e muitos outros, foram aposta, corresponderam e agora estão já num patamar elevado. Penso que só é preciso uma aposta mais consistente, porque qualidade não falta...», finalizou.

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